quinta-feira, 4 de julho de 2019

Francisco José Lopes, a Aldraba e o PAN2019



















A ALDRABA, conforme decidido na Assembleia Geral de 15.2.2019, vai participar este ano no PAN2019-Encontro e Festival Transfronteiriço de Poesia, Património e Arte de Vanguarda em Meio Rural, que se realiza de 5 a 7 de julho em Vilarelhos (Alfândega da Fé, Bragança) e de 19 a 21 de julho em Morille (Salamanca, Castela-León).


Reproduz-se aqui este belo texto do nosso amigo Francisco José Lopes, um dos principais impulsionadores de um evento marcante na cultura popular dos dois países:



Eu sou transmontano. Desculpem, mas faço questão de não abdicar das minhas origens, de não trocar absolutamente nada por esta forma de estar e de sentir a vida: de continuar a resistir. A minha história de vida começou, como a de toda a gente, por um simples papel onde alguém registou, por acaso de forma errada, o meu nascimento.

Depois disso, a pedra da vida estava lançada. Pedra bruta, mas apetecível, que me competia trabalhar. Corri muitos mundos, por dentro e por fora, desaguei em muitos sonhos, por fora e por dentro, calcorreei muitos caminhos, visíveis e invisíveis, perdi muito e ganhei outro tanto, aprendi mais do que ensinei: vivi. Sou o que me fiz, com aquela eterna, mas genuína humildade de perceber que não sou coisa nenhuma, se caminhar sozinho, mesmo que a companhia discorde de mim, porque simplesmente, persistindo obrigatoriamente na busca, não acredito que alguma vez encontre a perfeição.

Vem este texto a propósito de um outro que, em jeito de arranjo poético das palavras, escrevi em 2018, tentando expressar o que me ia na alma e continua a crescer dentro de mim. Um texto sobre a razão de andarmos todos por aqui, a tentar construir uma forma diferente de pensar a cultura sem fronteiras, numa península ibérica com história comum, mas caminhos diferentes, com realidades parecidas, mas por vezes tão distantes, como se um imenso mar imaginário nos separasse indefinidamente.

Eu não me construí integralista e muito menos integracionista. Defensor que aprendi a ser do direito de soberania e da unidade cultural, respeito as opções, mesmo que por vezes não partilhe dos caminhos.

Quero dizer-vos, desta forma, que a “invenção” da filosofia geocultural que está na origem do PAN, vinda de um cidadão, de nome Manuel Ambrosio Sánchez Sánchez, cujo distinto currículo não cabe sequer nesta minha reflexão, me entusiasmou e arrebatou de corpo e alma desde o primeiro momento que dela tomei conhecimento, em Carviçais (Torre de Moncorvo), primeiro e no ano seguinte na própria origem, na pequena localidade de Morille, que como viajante não podia deixar de conhecer.

Já lá vão quatro anos de PAN, mas sou uma criança, não apenas pelas XVII edições da iniciativa, mas sobretudo por ainda estar a absorver muito da sua magia. E já agora, a contrariar tudo e todos os que ainda não perceberam, que isto não é uma feira de vaidades, de virtuosismos, de negócios, de perfeccionismos, mas tão só um espaço de partilha e de liberdade!

Nem toda a gente tem espírito de PAN. Não vejo, nem há qualquer problema nisso. Na vida todos temos as nossas opções, e ter liberdade para isso já custou imensamente a muitos, muito embora alguns dos que hoje desfrutam dela pouco ou nada tenham contribuído para isso, mesmo quando foram chamados a fazê-lo. Outros não têm tempo de estrada para se recordar, mas deveriam ter mais memória para perceber, que os PANs todos que nos aparecem no caminho da vida são apenas o fruto de uma vontade coletiva de não abandonar o direito de sonhar. De estar em Poesia.

Para o bem e para o mal, deixo-vos com a simplicidade das palavras que construí e, acima de tudo, com um fraterno abraço de agradecimento por continuardes a acreditar no PAN e na terra transmontana (Vilarelhos) que nos próximos dias nos acolherá de braços abertos e sem reservas. Que saibamos e possamos, juntos, estar em pan-poético!

Francisco José Lopes

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