A ALDRABA, conforme decidido na Assembleia Geral de 15.2.2019, vai participar este ano no PAN2019-Encontro e Festival Transfronteiriço de Poesia, Património e Arte de Vanguarda em Meio Rural, que se realiza de 5 a 7 de julho em Vilarelhos (Alfândega da Fé, Bragança) e de 19 a 21 de julho em Morille (Salamanca, Castela-León).
Reproduz-se aqui este belo texto do nosso amigo Francisco José Lopes, um dos principais impulsionadores de um evento marcante na cultura popular dos dois países:
Eu
sou transmontano. Desculpem, mas faço questão de não abdicar das minhas origens,
de não trocar absolutamente nada por esta forma de estar e de sentir a vida: de
continuar a resistir. A minha história de vida começou, como a de toda a gente,
por um simples papel onde alguém registou, por acaso de forma errada, o meu
nascimento.
Depois
disso, a pedra da vida estava lançada. Pedra bruta, mas apetecível, que me
competia trabalhar. Corri muitos mundos, por dentro e por fora, desaguei em
muitos sonhos, por fora e por dentro, calcorreei muitos caminhos, visíveis e
invisíveis, perdi muito e ganhei outro tanto, aprendi mais do que ensinei:
vivi. Sou o que me fiz, com aquela eterna, mas genuína humildade de perceber
que não sou coisa nenhuma, se caminhar sozinho, mesmo que a companhia discorde
de mim, porque simplesmente, persistindo obrigatoriamente na busca, não acredito
que alguma vez encontre a perfeição.
Vem
este texto a propósito de um outro que, em jeito de arranjo poético das palavras,
escrevi em 2018, tentando expressar o que me ia na alma e continua a crescer
dentro de mim. Um texto sobre a razão de andarmos todos por aqui, a tentar
construir uma forma diferente de pensar a cultura sem fronteiras, numa
península ibérica com história comum, mas caminhos diferentes, com realidades
parecidas, mas por vezes tão distantes, como se um imenso mar imaginário nos
separasse indefinidamente.
Eu
não me construí integralista e muito menos integracionista. Defensor que
aprendi a ser do direito de soberania e da unidade cultural, respeito as
opções, mesmo que por vezes não partilhe dos caminhos.
Quero
dizer-vos, desta forma, que a “invenção” da filosofia geocultural que está na
origem do PAN, vinda de um cidadão, de nome Manuel Ambrosio Sánchez Sánchez,
cujo distinto currículo não cabe sequer nesta minha reflexão, me entusiasmou e
arrebatou de corpo e alma desde o primeiro momento que dela tomei conhecimento,
em Carviçais (Torre de Moncorvo), primeiro e no ano seguinte na própria origem,
na pequena localidade de Morille, que como viajante não podia deixar de
conhecer.
Já
lá vão quatro anos de PAN, mas sou uma criança, não apenas pelas XVII edições
da iniciativa, mas sobretudo por ainda estar a absorver muito da sua magia. E
já agora, a contrariar tudo e todos os que ainda não perceberam, que isto não é
uma feira de vaidades, de virtuosismos, de negócios, de perfeccionismos, mas
tão só um espaço de partilha e de liberdade!
Nem
toda a gente tem espírito de PAN. Não vejo, nem há qualquer problema nisso. Na vida
todos temos as nossas opções, e ter liberdade para isso já custou imensamente a
muitos, muito embora alguns dos que hoje desfrutam dela pouco ou nada tenham contribuído
para isso, mesmo quando foram chamados a fazê-lo. Outros não têm tempo de
estrada para se recordar, mas deveriam ter mais memória para perceber, que os
PANs todos que nos aparecem no caminho da vida são apenas o fruto de uma
vontade coletiva de não abandonar o direito de sonhar. De estar em Poesia.
Para
o bem e para o mal, deixo-vos com a simplicidade das palavras que construí e, acima
de tudo, com um fraterno abraço de agradecimento por continuardes a acreditar
no PAN e na terra transmontana (Vilarelhos) que nos próximos dias nos acolherá
de braços abertos e sem reservas. Que saibamos e possamos, juntos, estar em
pan-poético!
Francisco José Lopes
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