A intenção de dar a conhecer a história e a arte da Basílica de Castro Verde levou à abertura, em 2003, do “Tesouro da Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição”, instalado na antiga sacristia.
No interior da exposição, destaca-se uma cabeça em prata de tamanho natural, dos meados do século XIII, que guarda no seu interior, como relíquia, uma calote craniana. A primeira referência que há desta peça é no ano de 1565 em Casével, depois dessa data pouco se sabe do percurso desta cabeça, até ser encontrada em 1986 numa visita da equipa do Campo Arqueológico de Mértola à pequena aldeia de Casével, com o objectivo de reunir e inventariar a documentação histórica depositada na junta de freguesia.
Apesar de há muito ter perdido a sua função, a cabeça relicário permanecia viva na memória colectiva local, sendo identificada como de São Fabião, papa mártir. Na opinião de alguns moradores mais idosos, este relicário tinha o poder de curar as doenças dos animais.
Relatam que a peça era colocada na janela da igreja, e os pastores traziam o gado que passava em frente à cabeça, esta por sua vez ouvia o gemido dos animais, cheirava as doenças e através de um bafo curava o mal do gado.
A peça encontra-se furada nos ouvidos, nas narinas e na boca, mas o seu executor deixou intactos os olhos, sabendo o perigo que podia representar se estivessem furados. Isto é baseado numa crença que conta que, quando alguém morria, o facto de olharmos para os olhos do mesmo nos cegava ou levava à loucura, pois dizia-se que a pupila era uma perigosa ligação com os mundos do Além.
Hoje em dia, a cabeça relicário de São Fabião ainda vai alimentando os medos e os sonhos de muitas gerações, e continua a manter aquele olhar condescendente e inofensivo, aquele infindável sorriso de quem sabe que o seu mistério nunca será desvendado.
Ricardo Colaço
(Extracto de um artigo publicado no nº 10 do boletim “Aldraba”. O Ricardo é amigo da nossa Associação e trabalha na Basílica de Castro Verde)
Parabéns ao Ricardo Colaço por este artigo, pela magnífica colaboração que deu à Aldraba. E que venham mais artigos, pois gostamos de o ler - e de saber um pouco mais acerca do nosso património. Bem haja!
ResponderEliminarParabéns Ricardo Colaço. Para além de já ter tido o privilégio de fazer uma visita guiada por ti agora tenho o prazer de ler também, este artigo de linguagem simples revela-se muito interessante, transmitindo toda a mensagem e conseguindo cativar os leitores. PARABÉNS.
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