Embora já um pouco fora de tempo, uma vez que decorreu entre 4 e 26 de Setembro, gostaríamos de aqui deixar algumas notas relativas à Feira da Luz.
A Feira da Luz realiza-se em Carnide, Lisboa, e é das poucas no País com mais de quinhentos anos de história. O ponto alto é a procissão em honra da Nossa Senhora da Luz, que se realiza no último domingo de Setembro.
"A lenda conta que um soldado português foi para a guerra em Ceuta. Durante o conflito, esse soldado terá sido salvo por uma luz, com a imagem de Nossa Senhora. Quando regressou a Portugal, construiu uma ermida onde é hoje o santuário de Nossa Senhora da Luz".
Certo é que os relatos históricos dão conta de uma enorme devoção à Nossa Senhora da Luz, atraindo devotos de várias localidades.
Do passado, sabemos que esteve ligada à tradicional romaria que se realizava anualmente, em Setembro, no Santuário da Nossa Senhora da Luz, sendo complemento das festividades religiosas que duravam vários dias e atraíam numerosos forasteiros da capital e arredores. Embora se possa considerar tão antiga como o próprio culto e remonte, certamente, à Idade Média, foi durante os séculos XVI e XVII que começou a adquirir maior projecção.
Os marítimos eram devotos da Nossa Senhora da Luz e, por isso, compareciam sempre várias confrarias com os seus estandartes. Mas, numa área essencialmente rural, os principais devotos eram os trabalhadores rurais de toda a zona norte do termo de Lisboa e até os saloios de Mafra e Sintra. Por isso, as festividades religiosas e a feira que se lhe seguia passaram a realizar-se em Setembro, no final das colheitas de verão.
Os aristocratas deslocavam-se em carruagens próprias e os populares iam de burro ou a pé. Quando se inaugurou o elevador de S. Sebastião da Pedreira em 1899, o percurso mais encurtado, através da estrada da Luz, por Sete Rios. Em 1929, com o estabelecimento da linha de eléctricos que ligava os Restauradores a Carnide, o acesso ficou mais fácil e foi estabelecido um novo calendário, prolongando-se a feira desde o primeiro sábado até ao último domingo de Setembro.
Os aristocratas deslocavam-se em carruagens próprias e os populares iam de burro ou a pé. Quando se inaugurou o elevador de S. Sebastião da Pedreira em 1899, o percurso mais encurtado, através da estrada da Luz, por Sete Rios. Em 1929, com o estabelecimento da linha de eléctricos que ligava os Restauradores a Carnide, o acesso ficou mais fácil e foi estabelecido um novo calendário, prolongando-se a feira desde o primeiro sábado até ao último domingo de Setembro.
Do presente, durante um desconsolado passeio numa manhã de Setembro, constatámos que a feira que chegou aos nossos dias é uma pálida imagem do seu fulgor de outros tempos. No dizer da D. Lurdes, vendedora de roupa que “faz a feira” há meia dúzia de anos, o que aqui pagam nem dá para o que gastou com os livros e material escolar dos filhos, neste início de ano lectivo, e só cá vem porque é perto de casa… Já a D. Amélia, que para aqui traz os seus cestos vai para mais de 35 anos, garante que veio porque tinha o armazém cheio e no fim da vida não gostaria de desistir. Acrescenta que a feira já foi 5 vezes o que é hoje, que “nem à noite isto anima, só aos fins-de-semana, e pouco”.
Os queixumes de ambas? “Primeiro tiraram os divertimentos (carrosséis, carrinhos de choque, etc.), depois puseram as barracas todas cinzentas e iguais, e por um preço que dava para viver bem o mês inteiro…”
Sabendo do dinamismo da Junta de Freguesia de Carnide, aqui deixamos o apelo para que o futuro da Feira da Luz possa vir a ser repensado, honrando as suas glórias passadas.
Mais informação em http://www.jf-carnide.pt/cr_historia.php
MEG
Poder-se-ia dizer que "a tradição já não é o que era" mas pareceria irónico ou mordaz. A verdade é que as grandes urbes absorvem (engolem?) os seus habitantes e com eles muitas destas seculares tradições populares. E os turistas, nesta época do ano, já não abundam nem creio que buscassem diversão ou entretenimento quase fora de portas...
ResponderEliminarHá que recriar, dinamizar, inovar, sem saudosismo passadista mas com gosto pela cultura de um povo.
MPA