sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O rei vai nu!


As histórias da nossa infância remetem-nos para um tempo de ingenuidade e de sonho, onde certas verdades, incómodas para a sociedade estabelecida, também tinham o seu lugar.

Esta manhã, em conversa ligeira com um colega finlandês presente na mesma reunião internacional em que eu estava, fiz-lhe um reparo sobre a página electrónica do serviço da Comissão Europeia em que ele trabalha. E comentei que tal incorrecção (falta a ligação ao principal texto legal aplicável no seu sector, enquanto é possível chegar directamente a uma multidão de textos secundários...) certamente já foi notada por muita gente, mas ninguém é capaz de o dizer aos responsáveis.

Provocando o Timo Altonen, disse-lhe que fazia lembrar um conto infantil que conheci há muitas décadas em Portugal, em que uma criança denuncia na praça pública que o rei vai nu no seu habitual desfile, enquanto os cortesãos e o povo atemorizado repete, respeitosamente, que são tão belas as roupas de Sua Majestade!

Para meu espanto, responde-me o colega nórdico, que vive em Bruxelas e que hoje estava comigo em Genebra, que sim senhor, estava de acordo, pois também na sua infância conheceu a mesma história, e há de facto situações como esta em que as pessoas se "auto-hipnotizam" e perdem a sua capacidade crítica, seduzidas como estão pelas conveniências sociais.

Grande lição esta. Temos patrimónios populares que até são comuns a muitos povos, temos memórias e sabedorias com tanto potencial, e tantas vezes as reprimimos.

Venham outras memórias infantis até ao nosso blogue, e lutemos contra o seu apagamento...

JAF, gravura reproduzida do blogue "Dragoscópio"

3 comentários:

  1. Bem interessante e original esta abordagem. Obrigado por partilhares.
    Abraço
    Luís

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  2. Sim, é interessante a abordagem. Ape-
    nas duas pequenas notas:1) O povo não falou, não por estar atemorizado mas porque teme ser tomado por estúpido, já que os aldrabões que indrominaram o rei tinham afirmado que o fato só seria visto pelos inteligentes... 2) Muito embora esse conto seja tido como popular, a verdade é que ele foi escrito por Hans Christian Andersen em 1837

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  3. Um acrescento ao comentário anterior: Andersen esteve em Portugal no ano de 1860. Dessa viagem resultou um livro descritivo da mesma.
    Veio a convite do seu amigo Jorge O'Neill que conhecera em Copenhague nos anos 20.
    Uma hipótese: será que o tal conto tem mesmo origem popular portuguesa e que alguma referência a ele ,mesmo que breve, feita por O'Neill, tenha sido motivo de inspiração para Hans Andersen passados alguns anos?

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