quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Contributos para um debate



Quando, no inicio de 2005, o núcleo inicial do que viria a ser a ALDRABA se reuniu para avaliar da possibilidade de constituir uma associação que se “afirmasse como interlocutor na defesa e na valorização do património popular em todas as suas vertentes” e “promover a revitalização e dinamização patrimonial, de âmbito local e regional” (entre outros objectivos), a primeira dificuldade que surgiu foi a da escolha de uma frase definidora que completasse o nome já escolhido: optou-se por “Associação do Espaço e Património Popular”.

Optou-se pois por um universo alargado (o popular) em detrimento de outros mais restritos embora mais conformes com a ideia-impulso inicial ( o imaterial e o invisível ).

Este opção, na minha opinião, trouxe alguns problemas. Em primeiro lugar há uma ambiguidade quase inultrapassável no conceito de popular. Dispenso-me de me explicar aqui, dado que é tema no qual já se gastaram rios de tinta. O mesmo direi no que se refere a cultura popular e a património popular.

É evidente que o povo (seja lá o que isso for...) se não preocupa muito com estes problemas, exaustivamente analisados pelos ditos “cultos” ou “eruditos”. Mantém as suas práticas, as suas festas, as suas tradições, indiferente a estas análises. Mas será mesmo assim? É que é curioso verificar que o renascimento de muitas práticas ditas tradicionais em muitas regiões do país tem como pivot precisamente alguns elementos que, embora perfeitamente enquadrados nas populações locais, pensam, como que do exterior, essas mesmas práticas. Será que essa acção dos “eruditos” desvirtua de algum modo a autenticidade das tradições? Penso que não, como penso que não é correcto admitir que o património popular é forçosamente malquisto e desprezado pelos tais “cultos”. Há muitos exemplos do contrário, quer antes de 1910 quer mesmo durante a ditadura...

Também, no terreno concreto da nossa acção se levantam algumas questões.

Por exemplo, se a ALDRABA se empenhasse, como julgo que deveria ter feito (e ainda está a tempo de fazer) na luta pela preservação da Tapada das Necessidades, estaremos a trabalhar em terrenos do património popular? Ou quando manifestamos apoio ao movimento Não apaguem a Memória? Ou quando promovemos uma visita à Quinta da Regaleira?

É evidente que não, como (para mim) é evidente que, não caindo essas acções dentro do espaço popular, elas se enquadram numa perspectiva de actuação que valora o património em sentido lato.

José Manuel Prista

_________________________________________________

"A ALDRABA"

Sem comentários:

Enviar um comentário