sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Os chocalhos e a Aldraba












A Aldraba voltou a estar presente na última edição dos Chocalhos - Festival da Transumância, que decorreu de 19 a 21 de setembro de 2025 na vila de Alpedrinha, concelho do Fundão.

Durante esse período, esteve exposta a bela exposição fotográfica "Ecos dos Chocalhos", organizada por Eduardo Trigueiros Serra, por Francisco Barata Roxo e pela Fábrica da Igreja Paroquial, na Capela do Espírito Santo. No mesmo local, foi feita mais uma apresentação do nosso caderno temático "Os cataventos do Concelho de Moura".

O programa cultural do Festival incluiu, como sempre, a exibição pelas ruas da vila de um elevado número de grupos populares, bandas e ranchos folclóricos.

Tivemos ainda alguns concertos musicais com artistas profissionais, de que destacamos a inesquecível noite com Júlio Pereira (que teve a gentileza de posar connosco...).

JAF (fotos Laurinda Figueiras)

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Mamíferos selvagens em Portugal


 

Nova incursão pelo património natural português, desta vez pelas espécies zoológicas que surgem no nosso território em espaço aberto, isto é, sem serem animais domésticos ou de criação pecuária.

Excluem-se desta abordagem de hoje os peixes, os crustáceos, as aves, os répteis e os insetos, em que qualquer um deles são universos riquíssimos…

Centrando-nos nos mamíferos terrestres, vamos deixar de fora as espécies animais que vivem em liberdade e que são mais comuns, há tantos anos, como os ratos, as toupeiras, os coelhos ou as lebres – que a generalidade dos portugueses não pressente como animais selvagens.

Deixemos também de fora os mamíferos aquáticos, como as baleias ou os golfinhos, ou voadores, como os morcegos.

Ficaremos então, nos mamíferos terrestres selvagens portugueses, com uma seleção de castores, coatis, corços, doninhas, esquilos, fuinhas, ginetos, javalis, leirões, linces, lobos, musaranhos, ouriços, raposas, sacarrabos, texugos, ursos, veados e visões.

São estes os animais selvagens, avistados em Portugal nos últimos anos, que são destacados na muito interessante reportagem do jornalista Luís Francisco no n.º 2759 da revista do Expresso, de 12/9/2025, a páginas 13-18, e cuja leitura se recomenda!

Animais que não surgiram agora, mas que se vão tornando cada vez mais visíveis, à conta das câmaras de videovigilância e dos telemóveis, dos fóruns de apaixonados da vida animal, das câmaras automáticas ativadas por sensores, ou da comida fácil que é deixada no lixo ou que resulta da proteção humana a outras espécies animais.

E escreve Luís Fernando no artigo citado: “… nos anos em que o planeta foi assolado pela covid-19, o mundo selvagem recuperou algum do seu espaço. E não parece querer abrir mão dele, até porque os humanos estão cada vez mais sensibilizados para a sua presença. Na maior parte dos casos, com um sorriso”.

A grande maioria destes animais não constituem, de facto, perigos reais para o género humano. E constituem uma realidade que a todos nos vem enriquecer…

JAF


domingo, 31 de agosto de 2025

O acervo documental da Aldraba (28): Comércio



Retomando a divulgação do nosso acervo de textos publicados na revista "Aldraba" ao longo dos 37 números até agora editados, recordam-se hoje os artigos relativos ao tema das atividades comerciais:

Ana Alexandra Henriques, “A Mouraria, hoje”, nº 27 (Abr.2020), p.31

Glória Montes, “A lota de Lagos”, nº 9 (Out.2010), p.5

João Coelho, “Lojas com história e memórias”, nº 21 (Abr.2017), p.12

José do Carmo Francisco, “A mais pequena livraria do mundo”, nº 8 (Dez.2009), p.12

Luís Filipe Maçarico, “Joaquina e Eurico: a mercearia onde se sente o Alentejo”, nº 27 (Abr.2020), p.23

Nuno Roque Silveira, “A Feira da Ladra”, nº 7 (Jul.2009), p.5 

Os interessados em aceder a algum ou alguns destes textos podem manifestar-se através de uma simples mensagem para aldrabaassociacao@gmail.com, e teremos todo o gosto em lhes enviarmos cópia(s).

JAF

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

20 expressões antigas do tempo das nossas avós


Reproduzido, com a devida vénia, de https://www.vortexmag.net/expressoes-antigas-da-lingua-portuguesa:

A língua muda, mas não esquece. E entre as tantas marcas que o tempo deixa no modo como falamos, há expressões que resistem como pequenas cápsulas culturais – formas de dizer que já não se ouvem com frequência, mas que continuam a fazer sentido.

Muitas dessas expressões eram comuns nos tempos das nossas avós. Algumas caíram em desuso, outras ainda se ouvem aqui e ali, mas todas revelam muito do humor, da criatividade e da sabedoria popular de outros tempos.

1. À noite todos os gatos são pardos

Quando a luz desaparece, tudo parece igual — ou mais difícil de distinguir. É isso que esta expressão ilustra: na escuridão, perdem-se as diferenças.

2. Andar à toa

Sem rumo, sem planos, apenas a seguir o tempo. Vem do mundo náutico: um barco à toa está a ser puxado, sem controlo próprio.

3. Armar aos cucos

Quem “arma aos cucos” tenta parecer mais do que é. A origem está na ave cuco, que põe ovos nos ninhos alheios — sem cuidar do que é seu.

4. Bater as botas

Uma forma informal de dizer que alguém morreu. A origem pode estar nos soldados que, caídos no campo de batalha, já não faziam as botas ecoar.

5. Chegar a roupa ao pelo

Não é apenas ralhar — é castigar com força. A imagem é clara: atingir alguém até ultrapassar o tecido e chegar à pele.

6. Dar com os burros n’água

Tentativa falhada. Recuo forçado. Segundo a lenda, vem de lavradores cujos burros se recusavam a atravessar um rio — acabando por cair à água.

7. Diz o roto ao nu!

Aponta a hipocrisia de quem critica sem ter moral para isso. Um pobre a rir-se de quem está ainda pior.

8. Fazer das tripas coração

Esforço extremo, sacrifício total. A imagem vem de rituais antigos, onde as tripas dos animais eram moldadas em forma de coração como oferenda.

9. Ir aos arames

Ficar furioso. Vem do mundo dos fantoches: quando os fios se enrolavam, os bonecos ficavam “fora de si”.

10. Lavar roupa suja

Discutir assuntos íntimos em público. Antigamente, lavava-se roupa nos rios — à vista de todos.

11. Meter o bedelho

Intrometer-se onde não foi chamado. O “bedelho” era uma haste usada para mexer brasas. Mal usada, podia provocar acidentes.

12. Meter o Rossio na Betesga

Quer fazer o impossível — como enfiar uma praça enorme numa rua minúscula. A expressão nasceu em Lisboa, entre o Rossio e a Rua da Betesga.

13. Não ter papas na língua

Fala o que pensa, sem rodeios. As “papas” dificultam o discurso — quem não as tem, não se cala.

14. Nascer com o rabo virado para a lua

Pessoa com sorte constante. Acreditava-se que nascer nessa posição trazia fortuna.

15. Pagar o pato

Assumir culpas que não são suas. No antigo “jogo do pato”, quem falhava tinha de compensar o dono do animal.

16. Pôr as barbas de molho

Ficar alerta. Os homens molhavam as barbas antes de se barbearem, para suavizar os pelos e evitar cortes.

17. Rachar a lenha

Trabalhar duro. Cortar lenha exige esforço físico — e é isso que esta expressão simboliza.

18. Tapar o sol com a peneira

Fingir que algo não existe. A peneira, cheia de buracos, não serve para esconder o sol — nem para encobrir verdades.

19. Ter o rei na barriga

Arrogância disfarçada de importância. Quem age como se tivesse o rei na barriga sente-se acima dos outros.

20. Tirar o cavalinho da chuva

Desistir de algo que se desejava. Se ninguém convida para entrar, mais vale tirar o cavalo da chuva e seguir caminho.


Estas expressões são heranças que, embora discretas, transportam história, modos de vida e formas de pensar. Resgatá-las é também uma forma de manter viva uma parte da cultura popular portuguesa – com graça, com memória e com muito da sabedoria das nossas avós.


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Bilhete postal









O bilhete postal foi, durante mais de um século, uma forma de comunicação escrita muito popular, em especial pela sua simplicidade e pela sua tarifa muito acessível (durante décadas, custava em Portugal $50, ou seja, cinquenta centavos...), incorporada no preço de venda ao público do retângulo de cartolina, em cujo verso se escrevia a mensagem para o destinatário.

Historicamente, a ideia da sua criação terá sido lançada em 1865 por Henrique Stephan, diretor-geral dos correios da Alemanha, numa conferência internacional em Carlsrhue, tendo sido posta em prática pela 1ª vez pelos correios da Áustria, em 1 de dezembro de 1869, com enorme sucesso.

Em Portugal, o bilhete postal foi criado por decreto de 31 de outubro de 1877, assinado pelo Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, João Gualberto de Barros e Cunha (cf. Godofredo Ferreira, "Velhos Papéis do Correio", ed. CTT, 1949).

                                         *     *     *

Formou-se em 1996 um grupo musical português precário, com o nome de Rio Grande, que reuniu seis notáveis artistas - o Rui Veloso, o Tim (dos Xutos e Pontapés), o João Gil (dos Trovante), o Jorge Palma, o Vitorino e o João Monge. Registou grande impacto na altura, com um álbum com o mesmo nome do grupo, e um segundo em 1998 com o nome de "Dia de Concerto".

O maior sucesso dos Rio Grande, que ficou nas memórias de muitos de nós, foi o marcante "Postal dos correios", enviado por um qualquer migrante da Margem Sul (Barreiro, Almada, Cacilhas, Cruz do Pau?) aos seus pais numa recôndita aldeia alentejana. Aqui deixamos o belo texto dessa mensagem:

Postal dos correios

Querida mãe, querido pai. Então que tal? 
Nós andamos do jeito que Deus quer 
Entre dias que passam menos mal 
Lá vem um que nos dá mais que fazer 

Mas falemos de coisas bem melhores 
A Laurinda faz vestidos por medida 
O rapaz estuda nos computadores 
Dizem que é um emprego com saída 

Cá chegou direitinha a encomenda 
Pelo "expresso" que parou na Piedade 
Pão de trigo e linguiça pra merenda 
Sempre dá para enganar a saudade 

Espero que não demorem a mandar 
Novidade na volta do correio 
A ribeira corre bem ou vai secar? 
Como estão as oliveiras de "candeio"? 

Já não tenho mais assunto pra escrever 
Cumprimentos ao nosso pessoal 
Um abraço deste que tanto vos quer 
Sou capaz de ir aí pelo Natal

"Rio Grande", 1996

 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

A Aldraba esteve no PAN de Vilarelhos de 2025


 


De 25 a 27 de julho de 2025, a nossa associação participou em Vilarelhos (concelho de Alfândega da Fé, Bragança) em mais uma edição do PAN - Encontro e Festival Transfronteiriço de Poesia, Património e Arte de Vanguarda em Meio Rural.

A convite da organização, onde se salientam o incansável e omnipresente Francisco José Lopes e o editor António Sá Gué, interviémos no "Espaço das Associações", apresentando a nossa atividade e as mais recentes publicações da Aldraba (a saber, a revista n.º 37 e o caderno temático n.º 2), que suscitaram vivo interesse da assistência.

No mesmo momento do programa, intervieram outras associações culturais populares, de que destacamos o Círculo Artur Bual e a Ribacvdana, dirigidos respetivamente por Rodrigo Dias e Carlos Vicente (que, por sinal, são também associados da Aldraba...).

Ao longo dos três dias do Encontro, em que estiveram presentes mais de uma centena de portugueses e de espanhóis, juntamente com a população local da aldeia, registaram-se inúmeros eventos de grande nível e vibração. A poesia, a música, as exposições de arte, a reflexão sobre autores e cidadãos ilustres ligados a Trás-os-Montes, e a confraternização entre todos, marcaram de forma indelével o PAN de 2025.

O momento mais forte foi o sarau de poesia da tarde do dia 26, sob a coordenação do primeiro inspirador do PAN, Manuel Ambrósio Sánchez, que teve a participação de dezenas de poetas e declamadores, e do excelente grupo musical Luspaña.

JAF (foto Sara Timóteo)   

quinta-feira, 10 de julho de 2025

25 participantes na 15.ª Rota da Aldraba "Do Chiado ao Camões"





















Uma manhã quente de verão não afugentou um numeroso grupo de associados e amigos da associação Aldraba, que acorreram para mais este trajeto patrimonial por Lisboa.

A partir do fresco átrio dos Armazéns Chiado, logo pelas 10h30 do dia 6.7.2025, até à sombra da esplanada do Largo Camões, já pelo começo da tarde, percorremos e saboreámos as ricas referências ao edificado e à história daquela zona da cidade, sempre sob a entusiasta e inspirada batuta do Nuno Roque da Silveira. 

A Ana Machado também nos testemunhou a sua experiência pessoal em agosto de 1988, aquando do trágico incêndio que devastou o Chiado, onde ela residia com a família durante a sua adolescência.

Rua Garrett acima, passámos em revista, com complementos informativos de muitos dos presentes, o que foi o brilhante universo comercial do Chiado.

Na Livraria Bertrand, a dinâmica Inês contou-nos e encantou-nos sobre a história da mais antiga livraria do mundo em atividade.

Após almoçarmos, ainda houve oportunidade, junto ao quiosque do Largo Camões, para evocarmos o passado daquele extremo da nossa Rota, com muitas pontas para explorar e desenvolver em atividades futuras. 

JAF