Está hoje a ser lançado, pelas 18 horas, na Casa do Alentejo, o n.º 34 da revista ALDRABA, estando a apresentação a cargo do nosso amigo Dr. Manuel Brito.
Apelando novamente a todos a que apareçam, aqui deixamos o texto do Editorial, da autoria da nossa associada e membro dos órgãos sociais (Conselho Fiscal) Ema Câmara:
REFLEXÕES
Num
mundo cada vez mais digital, em que as pessoas se isolam com os seus telemóveis,
tablets, computadores, neste mundo
virtual e alienante, do faz-de-conta
e da aparência, é reconfortante relembrar o papel que a imprensa escrita teve
ao longo dos tempos.
Os
primeiros vestígios de escrita remontam aos anos 3000 a.C., na Mesopotâmia e
na Suméria, gravados em argila e cera, embora a primeira publicação periódica
se deva aos romanos, já no século I d.C. sob o jugo do imperador Augusto. Com a
sua supervisão, surgiu a Acta Diurna
que difundia notícias sobre eventos militares, obituários e actividades
desportivas e de lazer, sendo composta por vários pedaços de pedra gravados e
colocados em diversos locais públicos.
Foram
necessários mais alguns séculos para que a informação escrita e periódica chegasse
às nossas mãos, literalmente. A invenção da prensa com caracteres móveis por
Gutenberg, no século XV, foi um passo de gigante dado nesse sentido.
A
partir de 1880, as fotografias passam a
ilustrar as notícias, e os desenhos, nomeadamente publicitários,
continuaram a ser utilizados.
Com
a industrialização no século XIX, a imprensa escrita foi crescendo e ocupando
um lugar cada vez mais importante nas populações; apesar de a maioria não saber
ler, era comum que quem soubesse lesse em voz alta para os demais.
As
revistas humorísticas surgiram em Portugal nesta época, e desafio-vos a
desfrutarem de O António Maria ou A Paródia de Rafael Bordalo Pinheiro.
A
imprensa escrita constituiu um manancial de informação preciosa para se
conhecerem as vivências de épocas anteriores.
Com
o aparecimento da rádio e mais tarde da televisão, a informação tornou-se mais
acessível, mas a imprensa escrita manteve a sua posição. Além das notícias do
dia, os semanários com artigos de investigação continuam a despertar grande
interesse.
Infelizmente,
a internet e também a televisão por cabo com horários alargados foram uma
sentença de morte para jornais que todos nós conhecemos como O Século, o Diário Popular ou o Diário de
Lisboa, entre outros. Alguns conseguiram reinventar-se em versões digitais.
A
imprensa regional em geral, pela sua ligação mais directa às populações, aos
saberes, sabores e fazeres, tem um papel essencial na divulgação e preservação de
tradições e costumes, sobrevive com bastantes dificuldades graças à teimosia e
dedicação de quem escreve, fotografa, desenha e publica.
A
Hemeroteca Digital de Lisboa tem
realizado, com grandes dificuldades, a digitalização de periódicos antigos que,
de outra forma, estariam inacessíveis, dada a vulnerabilidade da sua
conservação. A programação habitual inclui clubes de leitura e, este ano, tem
realizado vários encontros temáticos “A Imprensa como fonte de investigação”.
Apesar
da era digital, da informação e da desinformação, nada como o prazer de
desdobrar um jornal, folhear uma revista, ler as notícias, os artigos de
opinião, de investigação, enquanto se sente o cheiro do papel e da tinta,
misturado com o aroma de uma bica ou de um cimbalino, num café, algures, numa
aldeia, numa cidade ou em qualquer outro lugar.
Ema Câmara
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