sábado, 28 de março de 2015

O jogo do pau



Pré-publicação do artigo que será incluído no nº 17 da revista ALDRABA, em preparação:

É difícil saber a data e o local do aparecimento deste jogo, em Portugal.

Acredita-se que tenha sido no norte e que possivelmente os “lusitanos” de Viriato já o sabiam manejar. Admite-se ainda que fosse uma das armas usadas nas lutas contra os romanos.

Durante muito tempo o seu uso era associado aos arruaceiros pela existência de desacatos, mais frequentes, nas feiras comerciais que se realizavam, temporariamente, em várias povoações ao longo do país.

Os “varrimentos”, isto é, os movimentos de rotação rápidos do pau pelos seus manejadores levavam as pessoas a fugir para não serem atingidas. Só eram interrompidas com o aparecimento das autoridades. Por este motivo, chegou a ser proibido o seu uso.

Com o decorrer do tempo, começaram a aparecer ”quintais” onde o jogo era ensinado e treinado. Mais tarde, apareceram as primeiras escolas de ensino em clubes desportivos da capital (Ateneu e Ginásio Clube Português) e do interior. Ali eram também preparadas sessões de demonstração pública desta arte.

Em meados do século XX, graças a um grande jogador, de nome Frederico Hopffer, foram introduzidas alterações e melhoramentos na arte de manejo do pau. Até então, o pau era seguro e rodado com as duas mãos. Com ele, aprendeu-se a vantagem de usar só uma das mãos e praticamente dá-se início à Escola de Lisboa.

O autor destas linhas, como dos mais antigos praticantes ainda ligados ao jogo, lamenta o desinteresse mostrado pela sociedade portuguesa, em geral, numa arte marcial única e das mais evoluídas no mundo. É originária em Portugal.

Os praticantes que se iniciam a aprender, mal lhes são ensinados a rodar o pau, pensam que já sabem tudo e desistem. As autoridades não apoiam a sua propagação e desenvolvimento.

Um lutador tem de praticar muito, para adquirir a velocidade e reflexos. É preciso combater com vários adversários para aperfeiçoar e adquirir destreza. É necessário muito treino e tempo. O argumento que algumas pessoas apresentam, de nem sempre se ter um pau nas mãos, não nos parece totalmente válido. A pessoa que domina esta técnica estará mais bem preparada para se defender de qualquer ataque. Se consegue desviar-se de um pau a rodar em grande velocidade e tem bons reflexos, também saberá esquivar-se de um murro ou de um ponta pé.

A presença de um pau na mão dos homens sempre lhes deu superioridade sobre o seu semelhante e sobre os animais. Prolonga o comprimento do braço e assusta os outros.

Hoje em dia, este jogo dá grande eficiência, não só no campo marcial como no campo de combate por ser muito rico tecnicamente. Praticá-lo dá-nos segurança, por se dominar uma técnica de defesa e por passarmos a possuir um grande controlo corporal e mental. Com preocupações pedagógicas e éticas, os seus praticantes são ensinados, por grandes mestres, a adquirirem os princípios socialmente aceites.

Actualmente, um grupo de entusiastas procuram cativar mais interessados com recurso a demonstrações públicas. Esta arte já não é só do domínio masculino. Muitas pessoas do sexo feminino tem mostrado curiosidade e têm procurado aprender.

Tenhamos orgulho no que é português e ajudem-nos a divulgar a nossa arte marcial.

ÁLVARO PATO

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