quarta-feira, 25 de junho de 2014

Jaime Gralheiro - "Este homem nunca mais morre!"


Jaime Gaspar Gralheiro, quase a completar 84 anos, homem de grande energia e fortes convicções, advogado, dramaturgo e encenador de São Pedro do Sul, acaba de nos deixar, vitimado por uma infecção intestinal aguda.

Amigo pessoal de alguns de nós, tornou-se também amigo da ALDRABA, para cujo último número da revista escreveu o artigo "Teatro popular nas Beiras", aqui reproduzido em pré-publicação em 21 de abril passado

No dia 25 de abril deste ano, a Câmara Municipal da sua terra fez-lhe uma merecidíssima homenagem, atribuindo o nome de Jaime Gralheiro ao Cine-Teatro da cidade, onde ele militou como encenador toda uma vida, dinamizando muitos grupos de jovens, adultos e até idosos na aprendizagem e na prática do teatro popular.

Este envolvimento do Jaime na movimentação teatral apaixonou-o durante décadas, primeiro nas duras condições do fascismo, depois no Portugal democrático – onde também se defrontou com muitas incompreensões e hostilidades, vindas de um ambiente social bastante conservador, mas onde ganhou grande respeito e admiração.

Jaime Gralheiro, na profissão de advogado, notabilizou-se em especial na defesa dos baldios e dos direitos dos compartes, tendo liderado inúmeras causas judiciais em que conseguia neutralizar os atropelos dos influentes e poderosos que se tentavam apropriar dos terrenos comunitários.

Aquando da recente homenagem que lhe foi feita pelo município, a ALDRABA escreveu a felicitá-lo, ao que o Jaime reagiu dizendo-nos da sua grande alegria, “porque foi um dia de festa para a cidade”, e afirmando estar à espera da nossa revista (lançada pouco depois na SFUCO, e que prontamente lhe fizemos chegar).

Consternados com este inesperado desenlace, dois membros da direção da ALDRABA participaram no sábado 21 de junho na cerimónia fúnebre, realizada – como deveria ser! – no Cine-Teatro Jaime Gralheiro, onde centenas de pessoas lembraram de forma muito emocionada a vida e o exemplo deste homem, inteiramente dedicado à sua terra e às suas gentes.

Entre os amigos, companheiros e familiares que usaram da palavra nessa sessão, destacaram-se, para além de algumas individualidades, o filho João Carlos (com um testemunho genial de homenagem ao percurso do pai), e dois membros do grupo cénico da Universidade Sénior de São Pedro do Sul, que o Jaime fundou nos últimos anos. Um destes oradores terminou a sua intervenção com a “citação” de uma frase de uma peça escrita pelo Jaime Gralheiro, retirada obviamente do seu contexto, e que escolhemos também como título deste post

Em nome de nós todos, deixámos um abraço muito forte à Marília e à restante família, e a expressão de que, como exemplo para as nossas lutas, o Jaime é um daqueles homens que não morrem!

JAF

2 comentários:

  1. Ainda bem que este homem viveu, lutou e criou liberdade, entre nós. Um Semeador Genial!

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  2. Apenas uma nota: A frase estaria melhor dita, por quem a pronunciou, se fosse assim: "Este homem nunca morrerá!" É que dizer "nunca mais morre", costuma empregar-se, quando estamos fartos de alguém, que nos enferniza a vida...o que não era o caso....

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