quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Museu da aldeia da Luz: reconstruir um lugar sem pessoas e sem partilha?









"As suas exposições temporárias e de natureza diversa - têm como eixo de abordagem as temáticas de fundo do museu: a identidade, a história, a paisagem deste lugar. Leituras múltiplas e diversas que reativam memórias e significados para a reconstrução do lugar." "O museu foi construído como lugar de memória e criação."

Se consultarmos o site do Museu da Luz (http://www.museudaluz.org.pt) é este tipo de discurso que encontramos. Convencer-nos-ia, decerto, se o interesse e a curiosidade não nos levasse ao espaço físico do Museu.

A visita, do passado dia 2 de Fevereiro, revelou-me um lugar impessoal e vazio deixando a impressão que carece de alguma atenção na organização dos poucos objectos existentes que compõem, de forma desgarrada, uma exposição que, alegadamente, por lá existe! Decerto pretende ser uma demonstração da imensa criatividade que caracteriza os designers ultra supra modernos mas que, certamente, nada dirá à população, ausente há muito.

Entre a “inovadora” e “brilhantíssima” ideia de colocar à disposição meia dúzia de binóculos para, fora do Museu, os visitantes observarem os pássaros, e as projecções de imagens de objectos e utensílios, incessantes e vertiginosas numa espécie de sessões contínuas que, no mínimo, nos deixam estonteados - existem três ou quatro peças (quem saberá onde estarão amontoadas as restantes) oferecidas pelos luzenses, espalhadas pelo espaço do Museu, sem qualquer referência ou classificação.

Dessas peças sobrantes da exposição que existiu e que se pretendia permanente, que contam histórias, vivências e modos de vida e que tanto significam para os habitantes que abdicaram delas para construir um espaço de memória e partilha, nada se diz.

Seria útil que os “iluminados” que dirigem este Museu tivessem em consideração as diferenças que existem entre os conceitos de museu e galeria de arte. Mais do que isso, que se informassem sobre as funções do Museu, designadamente sobre a função social de um Museu. O caso da Luz merece, em particular, esse cuidado e essa preocupação e os seus habitantes merecem o respeito pela sua identidade.

Regressando ao discurso inicial será pertinente questionar: Que história? Que memória? Que reconstrução do lugar se faz sem pessoas e sem partilha?

Ana Isabel Carvalho (associada da ALDRABA)

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