quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O "Faz-Tudo"

As luzes, os artistas, a cor, a ilusão, os trajes grotescos, as trapalhadas dos palhaços, os risos cristalinos das crianças e de todos quantos têm alma de criança, os malabarismos, a fantasia, a música, a ternura, a imaginação... fazem do circo um espectáculo único e um local onde o riso é mais livre, um verdadeiro conto de fadas, onde a tristeza não tem lugar. E, quem não deseja recordar os contos de criança, o mundo do faz de conta, ser transportado ao mundo da fantasia; quem não deseja abrir a boca de espanto perante todo o espectáculo grandioso e recordar com nostalgia, os tempos de criança?

O circo significava também uma vida errante, com misérias e grandezas, com dureza e aventura, com pobreza e alegria.

Os «faz-tudo» são artistas em que poucos reparam, mas que são os alicerces do espectáculo, pois preenchem os espaços em branco, que não permitem monotonia ou quebra de continuidade e que, ao mesmo tempo, provocam o riso. São eles, que entre actuações, intervêm para “obrigar” o público a rir, arquitectando pantominas, dando piruetas e saltos mortais. “Os «faz-tudo» não têm obrigações iguais ou parecidas às dos vários números do elenco da Companhia. Flutuam, conforme as necessidades do espectáculo, tapando «buracos», amenizando o tempo de colocação da rede para os voadores ou da desmontagem das jaulas das feras. São necessários, são imprescindíveis...” (Luís Ferreira, “A arte de fazer rir o público”, in República, 25/2/1955)

Quando entravam no palco, eram recebidos com a exclamação: “Olha! Lá vêm os trapalhões!”. E, nesse preciso momento, surgia a figura do «faz-tudo». Vestiam-se muitas vezes de casaco até aos joelhos, lenço tabaqueiro pendurado do bolso das calças, excessivamente compridas e largas, chapéu de coco, amarrotado, umas botas de «sete-léguas», e assim faziam rir o público, e sobretudo as crianças.

Conforme descreve Júlio Castilho, no segundo tomo da obra Lisboa Antiga, as raízes do circo remontam a maio de 1596 quando “estiveram em Lisboa uns arlequins, acrobatas, funâmbulos ou volatins, como lhe chamavam. E sabe o leitor onde representavam, e onde o público foi admirá-los e aplaudi-los, pagando as entradas a vintém por cabeça? Foi no pátio da casa do conde de Monsanto D. António de Castro. Por sinal o espectáculo rendia 30 a 40 mil réis em cada tarde" (Lisboa Antiga). Data de 1782 o primeiro circo instalado num teatro em Lisboa e desde então a sucessão de espectáculos por companhias portuguesas ou estrangeiras, ao ar livre ou em salas de espectáculo, na capital, no Porto e em outros locais deste pequeno país. O Coliseu dos Recreios foi parte relevante desse processo: "Lisboa precisava de uma grande sala de espectáculos. Com esta convicção fundou-se em 1887, a Sociedade dos Recreios Lisbonenses, em plena maré de exaltação nacionalista, na sequência das comemorações centenárias de Camões e Marquês de Pombal".

Muitos dos circos que atuaram, e atuam, em Portugal estão associados a famílias que preservam a tradição (Cardinali e Chen, por exemplo).

Hoje em dia a arte circense vive com dificuldades. Existe a necessidade de reinventar novas tradições e criar novos números.

Senhores e Senhoras! Meninos e Meninas! Exmo. Público! Saudemos o circo que vem aí! O REI DO RISO! O REI DOS PALHAÇOS!

Manuel Mamede Pereira

(mais outro artigo que sairá no nº 14 da revista ALDRABA)

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