Num sábado radioso, pelas 10 horas da manhã, começaram a juntar-se os 30 participantes nesta 4ª Rota da Aldraba, ali no Largo do Mitelo, ao Campo de Santana.
Encontro de amigos já de longa data, e também de conhecimento de vários novos, trazidos pelos primeiros.
Satisfação da direção da Associação, e reconhecimento de todos ao associado José do Carmo Francisco, orientador e animador principal do percurso, coadjuvado pelos dirigentes Maria do Céu Ramos e António Brito.
Começámos pelo contacto com o palácio do desembargador Alexandre Metelo, onde Fialho de Almeida foi praticante de farmacêutico, passámos ao Posto Geodésico e à Academia Militar (evocação da rainha de Inglaterra Catarina de Bragança), e visitámos o Pátio do Costa, “simpático, pequenino e sossegado”.
A partir do jardim do Campo de Santana, avistámos o que começou por ser o Campo do Curral, por efeito da «carniçaria» (matadouro), criada no Largo do Mastro em 1461, e avistámos também a Rua de Gomes Freire, antes chamada Carreira dos Cavalos, pois por aí vinham para Lisboa cavalos, touros e carroças. A Feira da Ladra, antes de ir para Santa Clara, esteve no jardim do Campo de Santana entre 1835 e 1882. As touradas, numa praça de madeira desmontável, eram animadas pelo Conde Vimioso, por D. João de Meneses e pela preta Cartuxa, que anunciava as festas taurinas em tipóia no meio de barulho e escárnio.
No local do Arco de Santana, onde está hoje a Faculdade de Ciências Médicas, evocámos Vasco Santana, que ali passou com distinção (esternoclenomastoideu…), mas em que tudo começou com a célebre frase dita por um preto «Vou para este exame completamente em branco!», e detivémo-nos na estátua ao «santo» Dr. Sousa Martins (1843-1897) que, tendo sido um ateu em vida, «transitou, contra a vontade, da heresia para a santidade.».
Passámos ainda pela placa de homenagem aos Mártires da Pátria, que dão desde 1880 nome oficial ao Campo de Santana, e que foram os heróis da conjura de 1817, 13 dos quais aqui foram enforcados e o mais famoso foi Gomes Freire de Andrade.
Seguimos depois para o Torel, espaço que deve o nome ao desembargador Cunha Thorel. Torel é o jardim/miradouro tal como Torel era o nome dos Serviços de Investigação Criminal em 1927. Por lá passaram os «vadios, mendigos e equiparados». O José do Carmo pormenorizou-nos dois casos: Mário Cesariny e Pepe.
A seguir ao Torel, descemos para a casa onde viveu Venceslau de Moraes (1854-1929), grande escritor português apaixonado pelo Japão e suas gentes, subimos ao Elevador do Lavra inaugurado em 1884 a ligar o Largo da Anunciada à Travessa do Forno do Torel. Ao lado do Instituto Câmara Pestana surge uma casa apalaçada adquirida em 1928 pelo Governo da Ditadura Nacional, junto à qual ficou a Ermida de Santana e sobejam hoje as placas camarárias de 1935 sobre os ossos de Camões, poeta desditoso até na posteridade. «No país onde Camões morreu à fome muitos enchem a barriga à custa de Camões» - Almada Negreiros disse.
Na Travessa da Pena, vimos onde viveu Ramiro Leão (1857-1934), com a sua casa e a sua fábrica, que dá acesso à Vila Serra Fernandes onde surge um magnífico miradouro semi-particular.
Na Calçada de Santana, no nº 177, surgiu a interessante Livraria «Pessoa & Cia», misto de alfarrabista e novidades, e no nº 139 vimos onde terá vivido Camões. No pátio nº 2 da Rua Martim Vaz nº 84, fomos ver onde nasceu Amália Rodrigues em 1920. Seguiu-se o Convento da Encarnação e o respetivo Recolhimento da Encarnação, entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Continuando a descer, chegámos finalmente ao Pátio do Salema, com uma bela vista para as chaminés do Palácio da Independência, e daí ao largo de São Domingos.
A maioria dos participantes nesta 4ª Rota da Aldraba aceitaram depois conviver num animado almoço, no mesmo restaurante junto ao Coliseu dos Recreios (Bonjardim) onde há 8 anos a nossa Associação assinalava os seus momentos fundadores.
Texto JAF (adaptado do guião de José do Carmo Francisco)
Fotografias de Mário de Sousa (reportagem completa no facebook da Aldraba, no álbum "4ª Rota da Aldraba - Do Campo de Santana ao Rossio")
Correcção: É na "Cena do Ódio", que Almada Negreiros profere a frase, atribuída neste texto, a Jorge de Sena.
ResponderEliminarOiço ainda na minha alma, Mário Viegas a dizer esse poema...Para confirmar, basta reler...
"(...) E inda há quem faça propaganda disto:
a pátria onde Camões morreu de fome
e onde todos enchem a barriga de Camões! "
http://portodeabrigo.do.sapo.pt/almada1.html
ou escutar:
http://www.youtube.com/watch?v=bm0JxtLdZfk
Feita a correção no post, quanto ao nome do autor da frase em causa.
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