quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Greve, Grève, Strike, Huelga, Folga, απεργία…












Na minha aldeia, ao domingo à tarde, os trabalhadores que procuravam trabalho juntavam-se num local, perto da ponte velha, onde os patrões ou encarregados os iam escolher para os dias seguintes. Em Paris, nas margens do Sena, havia igualmente um lugar com o mesmo fim. Um terreno onde crescia um arbusto chamado grève que deu ao local o nome de Place de Grève – a praça onde os trabalhadores sem emprego se juntavam à procura de algum tipo de ocupação. Daí terem surgido expressões como "ir a greve" (aller en grève), "estar em greve" (être en grève), que designavam o trabalhador que, sem trabalho, lá ficava de braços cruzados à espera de ser recrutado. Tudo isso se terá passado nos séculos XIV ou XV e a praça é, desde o princípio do XIX, a Place de l´Hôtel de Ville.
A praça mudou de nome, mas a palavra foi recuperada pelo movimento operário, no século XIX, para designar o combate contra as condições de exploração desenfreada a que o capitalismo passou a sujeitar os trabalhadores durante a revolução industrial. No mundo do trabalho selvagem e completamente desregulado de então, com origem na relação antagónica capital/trabalho, há notícia das duras lutas que estão associadas à reivindicação das 8 horas de trabalho, do direito a férias pagas, a aumentos salariais, e a um conjunto de direitos laborais a que chegámos no século XX.
Foram objecto de greves outros motivos de natureza cívica, tais como o direito ao voto das mulheres, etc..
Em Portugal, entre 1871 e 1900, José M. Tengarrinha identificou 725 greves (das quais 37 gerais), dispersas sobretudo pelos núcleos industriais de Lisboa, Porto e Setúbal. As principais motivações desse surto grevista foram aumentos salariais (42%), horário de trabalho (16,2%), condições de trabalho (15,4%), greves de solidariedade (9,6%), e contra os impostos (8,3%). Entre 1907 e 1920, no clima agitado da República, registaram-se 3068 greves, facto que não podemos desligar da legalização da greve pelo novo regime, logo em 1910.
Hoje, em condições distintas e longe das greves que provocaram situações de extrema violência que levaram à prisão e mesmo à morte trabalhadores envolvidos nestes movimentos, recordamos algo que (também) é património do povo português e de toda a humanidade!
MEG

2 comentários:

  1. Excelente texto. Que bom haver quem preserva a Memória...

    ResponderEliminar
  2. Bom texto que educa os novos adultos que não sabem o que as greves fizeram por eles...
    Posso roubar o texto para partilhar no FB ??
    vou roubar, obrigada.

    ResponderEliminar