sexta-feira, 9 de novembro de 2012

80 anos depois do massacre de Plainpalais























Foi também para combater o esquecimento e o apagamento das memórias que a Aldraba nasceu…

Estando esta semana em Genebra, por razões de trabalho, não posso deixar de evocar o acontecimento trágico de 9 de novembro de 1932, cujo 80° aniversário é hoje aqui assinalado.

Nessa data, haviam passado apenas 15 anos sobre a vitória da revolução bolchevique, que aterrorizou os governos da Europa ocidental. A grande depressão de 1929 havia passado dos Estados Unidos até este lado do Atlântico. No cantão de Genebra, governado por uma coligação de direita ligada aos banqueiros, o Partido socialista local desenvolvia uma intensa campanha contra a especulação e as fraudes fiscais. Na Alemanha, preparava-se a ascensão de Hitler.

O partido pró-fascista de Genebra, designado (curiosamente) União Nacional, convocou para a sala comunal de Plainpalais uma sessão, a realizar em 9.11.1932, destinada a decretar a “acusação pública” dos dois mais destacados dirigentes do Partido Socialista. Os socialistas apelam a uma manifestação popular de protesto, frente ao local da sessão, que terá reunido 4000 a 5000 pessoas, a partir das 17h.

Às 21h30, uma força militar de jovens recrutas, convocada em segredo pelo conselheiro cantonal da Justiça e Polícia, ataca sem aviso prévio a concentração, pelas costas, com ordem para atirar a matar.

13 pessoas foram mortas e 62 feridas.

Tudo isto se passou no país que tem o regime republicano eletivo mais antigo da Europa (desde o séc. XIV), na cidade que foi o berço de J.J.Rosseau e de Calvino, onde foi o refúgio de Lenine antes da revolução, e onde as liberdades de expressão e manifestação têm há muito expressão constitucional.

Uma lição trágica, que nos recorda que as pulsões autoritárias podem surgir em contextos políticos democráticos, e que a utilização não controlada de forças armadas pode sempre perigosamente degenerar em chacinas.

Não consegui deixar de refletir maduramente sobre estes factos e de, comovidamente, me dirigir à placa que assinala o local da tragédia. Depositei aí, em meu nome e de todos os que se queiram associar, uma rosa de cor vermelha!

JAF (texto e fotografia)

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