quinta-feira, 7 de agosto de 2025

20 expressões antigas do tempo das nossas avós


Reproduzido, com a devida vénia, de https://www.vortexmag.net/expressoes-antigas-da-lingua-portuguesa:

A língua muda, mas não esquece. E entre as tantas marcas que o tempo deixa no modo como falamos, há expressões que resistem como pequenas cápsulas culturais – formas de dizer que já não se ouvem com frequência, mas que continuam a fazer sentido.

Muitas dessas expressões eram comuns nos tempos das nossas avós. Algumas caíram em desuso, outras ainda se ouvem aqui e ali, mas todas revelam muito do humor, da criatividade e da sabedoria popular de outros tempos.

1. À noite todos os gatos são pardos

Quando a luz desaparece, tudo parece igual — ou mais difícil de distinguir. É isso que esta expressão ilustra: na escuridão, perdem-se as diferenças.

2. Andar à toa

Sem rumo, sem planos, apenas a seguir o tempo. Vem do mundo náutico: um barco à toa está a ser puxado, sem controlo próprio.

3. Armar aos cucos

Quem “arma aos cucos” tenta parecer mais do que é. A origem está na ave cuco, que põe ovos nos ninhos alheios — sem cuidar do que é seu.

4. Bater as botas

Uma forma informal de dizer que alguém morreu. A origem pode estar nos soldados que, caídos no campo de batalha, já não faziam as botas ecoar.

5. Chegar a roupa ao pelo

Não é apenas ralhar — é castigar com força. A imagem é clara: atingir alguém até ultrapassar o tecido e chegar à pele.

6. Dar com os burros n’água

Tentativa falhada. Recuo forçado. Segundo a lenda, vem de lavradores cujos burros se recusavam a atravessar um rio — acabando por cair à água.

7. Diz o roto ao nu!

Aponta a hipocrisia de quem critica sem ter moral para isso. Um pobre a rir-se de quem está ainda pior.

8. Fazer das tripas coração

Esforço extremo, sacrifício total. A imagem vem de rituais antigos, onde as tripas dos animais eram moldadas em forma de coração como oferenda.

9. Ir aos arames

Ficar furioso. Vem do mundo dos fantoches: quando os fios se enrolavam, os bonecos ficavam “fora de si”.

10. Lavar roupa suja

Discutir assuntos íntimos em público. Antigamente, lavava-se roupa nos rios — à vista de todos.

11. Meter o bedelho

Intrometer-se onde não foi chamado. O “bedelho” era uma haste usada para mexer brasas. Mal usada, podia provocar acidentes.

12. Meter o Rossio na Betesga

Quer fazer o impossível — como enfiar uma praça enorme numa rua minúscula. A expressão nasceu em Lisboa, entre o Rossio e a Rua da Betesga.

13. Não ter papas na língua

Fala o que pensa, sem rodeios. As “papas” dificultam o discurso — quem não as tem, não se cala.

14. Nascer com o rabo virado para a lua

Pessoa com sorte constante. Acreditava-se que nascer nessa posição trazia fortuna.

15. Pagar o pato

Assumir culpas que não são suas. No antigo “jogo do pato”, quem falhava tinha de compensar o dono do animal.

16. Pôr as barbas de molho

Ficar alerta. Os homens molhavam as barbas antes de se barbearem, para suavizar os pelos e evitar cortes.

17. Rachar a lenha

Trabalhar duro. Cortar lenha exige esforço físico — e é isso que esta expressão simboliza.

18. Tapar o sol com a peneira

Fingir que algo não existe. A peneira, cheia de buracos, não serve para esconder o sol — nem para encobrir verdades.

19. Ter o rei na barriga

Arrogância disfarçada de importância. Quem age como se tivesse o rei na barriga sente-se acima dos outros.

20. Tirar o cavalinho da chuva

Desistir de algo que se desejava. Se ninguém convida para entrar, mais vale tirar o cavalo da chuva e seguir caminho.


Estas expressões são heranças que, embora discretas, transportam história, modos de vida e formas de pensar. Resgatá-las é também uma forma de manter viva uma parte da cultura popular portuguesa – com graça, com memória e com muito da sabedoria das nossas avós.


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