
O bilhete postal foi, durante mais de um século, uma forma de comunicação escrita muito popular, em especial pela sua simplicidade e pela sua tarifa muito acessível (durante décadas, custava em Portugal $50, ou seja, cinquenta centavos...), incorporada no preço de venda ao público do retângulo de cartolina, em cujo verso se escrevia a mensagem para o destinatário.
Historicamente, a ideia da sua criação terá sido lançada em 1865 por Henrique Stephan, diretor-geral dos correios da Alemanha, numa conferência internacional em Carlsrhue, tendo sido posta em prática pela 1ª vez pelos correios da Áustria, em 1 de dezembro de 1869, com enorme sucesso.
Em Portugal, o bilhete postal foi criado por decreto de 31 de outubro de 1877, assinado pelo Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, João Gualberto de Barros e Cunha (cf. Godofredo Ferreira, "Velhos Papéis do Correio", ed. CTT, 1949).
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Formou-se em 1996 um grupo musical português precário, com o nome de Rio Grande, que reuniu seis notáveis artistas - o Rui Veloso, o Tim (dos Xutos e Pontapés), o João Gil (dos Trovante), o Jorge Palma, o Vitorino e o João Monge. Registou grande impacto na altura, com um álbum com o mesmo nome do grupo, e um segundo em 1998 com o nome de "Dia de Concerto".
O maior sucesso dos Rio Grande, que ficou nas memórias de muitos de nós, foi o marcante "Postal dos correios", enviado por um qualquer migrante da Margem Sul (Barreiro, Almada, Cacilhas, Cruz do Pau?) aos seus pais numa recôndita aldeia alentejana. Aqui deixamos o belo texto dessa mensagem:
Postal dos correios
Querida
mãe, querido pai. Então que tal?
Nós andamos do jeito que Deus quer
Entre dias que passam menos mal
Lá vem um que nos dá mais que fazer
Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída
Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo "expresso" que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade
Espero que não demorem a mandar
Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de "candeio"?
Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal
"Rio
Grande", 1996