sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Debaixo destas avelaneiras floridas










Aproximando-se timidamente a primavera, cumpre-nos hoje evocar uma "cantiga de amigo" do séc. XIII, atribuída a Aires Nunes de Santiago, e que José Afonso recuperou num álbum de 1969.

Esta "Bailia" tem um poema muito belo, em que se nota o cruzamento de elementos temáticos que António José Saraiva comentava sabiamente: 

"Em toda a Cristandade medieval, viu-se a Igreja obrigada a reprimir a prática de ritos e festas pagãs, cuja persistência mais ou menos ingénua sob a liturgia cristã apresentava como um dos aspetos mais pertinazes os cânticos eróticos de mulheres dentro dos próprios templos, por ocasião de romarias ou das festas pascais que cristianizaram as festas gentílicas das Maias sob a forma de júbilo da Ressurreição." 


Bailia


Bailemos agora por Deus ai velidas

So aquestas avelaneiras frolidas

E quem for velida, como nós, velidas

Se amigo amar,

So aquestas avelaneiras frolidas

Verrá bailar.

 

Bailemos agora por Deus ai loadas

So aquestas avelaneiras granadas

E quem for loada, como nós, loadas

Se amigo amar,

So aquestas avelaneiras granadas

Verrá bailar.

 

Bailemos nós já, todas três, ai amigas

So aquestas avelaneiras frolidas

E quem for velida, como nós, velidas

Se amigo amar,

So aquestas avelaneiras frolidas

Verrá bailar.

 

Bailemos nós já, todas três, ai irmanas

So aqueste ramo destas avelanas

E quem for louçana, como nós, louçanas

Se amigo amar,

So aqueste ramo destas avelanas

Verrá bailar.

 

Por Deus, ai amigas, mentre al non fazemos

So aqueste ramo frolido bailemos

E quem bem parecer, como nós parecemos,

Se amigo amar,

So aqueste ramo so que nós bailemos

Verrá bailar.

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