Aproximando-se timidamente a primavera, cumpre-nos hoje evocar uma "cantiga de amigo" do séc. XIII, atribuída a Aires Nunes de Santiago, e que José Afonso recuperou num álbum de 1969.
Esta "Bailia" tem um poema muito belo, em que se nota o cruzamento de elementos temáticos que António José Saraiva comentava sabiamente:
"Em toda a Cristandade medieval, viu-se a Igreja obrigada a reprimir a prática de ritos e festas pagãs, cuja persistência mais ou menos ingénua sob a liturgia cristã apresentava como um dos aspetos mais pertinazes os cânticos eróticos de mulheres dentro dos próprios templos, por ocasião de romarias ou das festas pascais que cristianizaram as festas gentílicas das Maias sob a forma de júbilo da Ressurreição."
Bailia
Bailemos agora por Deus ai velidas
So aquestas avelaneiras frolidas
E quem for velida, como nós, velidas
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Bailemos agora por Deus ai loadas
So aquestas avelaneiras granadas
E quem for loada, como nós, loadas
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras granadas
Verrá bailar.
Bailemos nós já, todas três, ai amigas
So aquestas avelaneiras frolidas
E quem for velida, como nós, velidas
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Bailemos nós já, todas três, ai irmanas
So aqueste ramo destas avelanas
E quem for louçana, como nós, louçanas
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas
Verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentre al non fazemos
So aqueste ramo frolido bailemos
E quem bem parecer, como nós parecemos,
Se amigo amar,
So aqueste ramo so que nós bailemos
Verrá bailar.
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