quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Trás-os-Montes, de ontem, de hoje e de sempre





Trás-os-Montes é uma região do nosso país que se caracteriza pela dureza da sua orografia, a qual em muito tem contribuído para a resistência e rijeza das suas gentes, desde os tempos mais remotos da nacionalidade. 

Um relato muito belo sobre essas terras no século XIV, da parte do historiador António Borges Coelho, dá-nos uma imagem muito impressiva do contexto natural da região, em termos que poderiam ser escritos nos séculos posteriores e até na atualidade:


A terra esfiapa-se entre rochedos, avolumando aqui e além em vale macio e úbere, e as rochas, solitárias ou em grandes massas, erguem-se no silêncio, enquanto o castanheiro solene e altivo, de tronco cavado e velho, se recusa a morrer e oferece a ternura das castanhas nos ouriços agressivos.

Isolam Trás-os-Montes as muralhas do Gerez, da Cabreira, do Marão, a Oeste; Larouco, Padrela, Coroa e Montesinho vigiam os montes de Castela, embora os dois povos apertem as mãos como em Rio de Onor; e o Douro é um fosso de fortaleza medieval. Escorre, espuma, salta a Sul e a Leste, ameaça com a força das correntes e o barro das águas, para logo se apaziguar em ilhotas de terra e brincar com milhóes de pedras polidas que amontoa no seu leito.

António Borges Coelho, "A Revolução de 1383", Portugália Editora, Lisboa, 1965, p.32


1 comentário:

  1. Belíssima transcrição. Grande Historiador. Portugal na Espanha Árabe é um dos seus livros de referência para mim. Tal como Questionar a História.

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