A Itinerante, como a maioria dos projectos ligados à defesa do património, nasceu quase de geração espontânea. Foi o entusiasmo de um pequeno grupo de pessoas que transformou uma ideia inicial, difusa, num projecto que tem, hoje, alguma dimensão e notoriedade.
Tudo começou com umas caminhadas em que participavam os amigos e os amigos dos amigos. Preparava-se não só o trilho, mas também meia dúzia de notas para dar a conhecer a região, referenciando o património existente e algum acontecimento histórico marcante. E muitas vezes, para fechar em beleza um dia bem passado a caminhar, havia opípara refeição num restaurante da zona desfrutando da gastronomia local. Estas caminhadas foram ganhando regularidade e adeptos. Conversa puxa conversa – uma das grandes virtudes das caminhadas é que conversamos… e é tão estimulante conversar! –, começou a fermentar a ideia de passar para o papel o conceito que, casualmente, tinha aparecido, fruto dos interesses de alguns de nós: juntar as três valências – o Caminhar, o Conhecer e o Conviver. E assim nasceu a “Itinerante – Divulgação Histórica e Cultural, Crl”, uma cooperativa sem fins lucrativos cujo objecto principal é a divulgação da História, da Cultura, da Geografia e da Paisagem, para dinamização do Turismo.
Face mais visível do trabalho desenvolvido pela cooperativa é a Revista ITINERANTE, que, no Ponto 1 do seu Estatuto Editorial, define claramente a sua razão de ser: «A revista ITINERANTE defende, através do pedestrianismo, o Turismo Ético. É objectivo da ITINERANTE: (a) promover hábitos de vida saudável; (b) defender e valorizar o património natural, cultural e ambiental; (c) contribuir para o estabelecimento de relações reciprocamente benéficas entre os caminheiros e as comunidades locais.»
E pensamos que, nos números já publicados, temos conseguido dar resposta a este objectivo. Por decisão editorial, a Itinerante é uma revista temática, ou seja, cada número é dedicado a um assunto. Até hoje, foram publicados 8 números – Invasões Francesas, Faróis de Portugal, Caminho Português de Santiago, República, 7 Maravilhas Naturais de Portugal, Contrabando, Santuários de Portugal e Enoturismo – para além de um número especial dedicado às Linhas de Torres Vedras.
Talvez a forma mais simples de dar a conhecer a Itinerante seja referir alguns dados:
(a) Já foram apresentados 61 trilhos, em 53 concelhos do Continente e das Ilhas. Vão desde a Serra d’Arga até à Ria Formosa, passando pela subida ao Pico e pela Lagoa das Sete Cidades. No total, eles percorrem 960km. De acordo com os nossos padrões – todos os trilhos foram testados pela equipa Itinerante, o que garante, a quem os faz, uniformidade nos critérios considerados – quem fizer todos ocupará 269 horas.
(b) Demos a conhecer 31 restaurantes. O Abocanhado, em plena Serra do Gerês, o Lampião, no Turcifal, o Martinho da Arcada, em Lisboa, a D. Isilda, em Palmela, o Eira do Mel, em Vila do Bispo e as Vides, em Câmara de Lobos, foram alguns deles. Mas o “Conviver” não se fica pelos restaurantes; há também a preocupação em divulgar pratos tradicionais da gastronomia local. Por isso já escrevemos sobre, por exemplo, a açorda, os Ovos Moles de Aveiro, a Bôla de Lamego, os enchidos do Alto Minho, as Fatias do Freixo e o Pão e Queijo da Senhora da Lapa, em Sernancelhe. É de ficar com água na boca…
(c) No bloco “Conhecer” já se conta com a colaboração de 60 individualidades. Porque consideramos primordial garantir informação rigorosa e de qualidade, recorremos, na grande maioria dos números, a um Consultor Científico, alguém de reconhecido mérito no tema em causa, que nos auxilia na escolha dos assuntos e dos articulistas. Por exemplo, o Prof. Doutor António Ventura, director do Centro de História da Faculdade de Letras de Lisboa, ajudou-nos no número das Invasões Francesas e tivemos o precioso apoio do Prof. Doutor José António Falcão, director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, nos números que dedicámos ao Caminho de Santiago e aos Santuários. Tivemos já a honra e o prazer de entrevistar, por exemplo, Frei Bento Domingues, a propósito do Caminho de Santiago, o Dr. Joaquim Boiça, que foi também o Consultor Científico, sobre os Faróis de Portugal, o Eng. José Bento dos Santos, conceituado gastrónomo, a propósito do Enoturismo e o Pe. Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, no número dos Santuários. Muitos outros nomes ligados à História, à Cultura e à Defesa do Património têm escrito na Itinerante, mas há duas personalidades que destacamos, pelo simbolismo dos seus contributos: no número dedicado às Linhas de Torres tivemos a participação de Lord Douro, descendente do Duque de Wellington e a de D. Manuel Clemente, na altura Bispo do Porto, actual Patriarca de Lisboa, que deu o seu testemunho enquanto Comissário da Comissão Municipal de Torres Vedras para as Comemorações do Bicentenário das Invasões Francesas. São estas pequenas “vitórias” que nos dão alento para continuar!
Mas o projecto Itinerante não se esgota na revista. Há o site (www.itinerante.pt) onde é possível ler excertos dos artigos publicados e descarregar os trilhos para GPS – basta introduzir a password que vem na revista do respectivo trilho – e há a página de Facebook; neste momento já ultrapassámos os 1.800 amigos. Ser amigo da Itinerante, no Facebook, permite estar a par das iniciativas desenvolvidas por entidades, algumas delas nossas parceiras. De facto, no âmbito da procura do benefício recíproco, entre quem caminha/visita e quem vive/se preocupa com a região, desde a primeira hora temos procurado, e temos conseguido, criar parcerias com associações de desenvolvimento local e de defesa do património. Neste momento são já mais de 20 as parcerias assinadas. No caso da Aldraba, essa parceria não está (ainda) protocolada, mas não faltará oportunidade. A excelente relação existente entre a Aldraba e a Itinerante ficou bem patente na nossa participação no XXI Encontro da Aldraba “Da Mértola Islâmica à Raia do Contrabando”, onde tivemos o prazer de partilhar convosco o trilho do contrabando “De Santana de Cambas à Mina de São Domingos”.
Uma última palavra quanto ao futuro. Não estamos parados e é nossa intenção aprofundar o projecto. Há ideias… ainda em fase de maturação. Aguardemos pelo início de 2014.
Até lá, saudações caminheiras!
José Constantino Costa
(Reprodução do artigo publicado no nº 14 da revista ALDRABA, em distribuição)
(Reprodução do artigo publicado no nº 14 da revista ALDRABA, em distribuição)
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