terça-feira, 20 de setembro de 2011

Uma caderneta de cromos




Albert Einstein afirmava que, em teoria, as viagens no tempo apenas eram possíveis rumo ao futuro. Se reunirmos energia suficiente para viajar para além da velocidade da luz, então conseguimos “chegar” ao futuro antes de este acontecer. Já regressar ao passado, à luz das leis que regem o Universo, é teoricamente impossível. Mas Einstein não era sociólogo, antropólogo ou historiador… Preservar a memória e o património é, por si, uma viagem no tempo à(s) época(s) em que esse acervo histórico fazia parte do dia-a-dia dos nossos antepassados. É olhar para a herança deixada pelos que vieram antes de nós.
Perceber que somos o que somos porque antes de nós outros nasceram, viveram e morreram, deixando-nos um património que, só por isso, vale a pena preservar e recordar.
Nuno Markl, humorista, locutor de rádio, autor e argumentista, sabe que nunca irá influenciar a Física Quântica. Mas com a sua rubrica “Caderneta de Cromos” tem, como poucos, ajudado toda uma geração inteira a viajar no tempo, para um passado recente mas nem por isso desprovido de património cultural… Com as suas crónicas de rádio (todos os dias de semana, na Rádio Comercial), entretanto passadas para livro, Markl entra numa máquina do tempo virtual para retornar aos anos 70/80 e 90 do séc. XX. À distância de uma memória, relata-nos o impacto que algumas das manifestações culturais dessa época tiveram na sua (e de tantos outros) juventude e no que ele é hoje como pessoa.
O humorista fala-nos de filmes (ex: Regresso ao Futuro ou Star Wars), séries de televisão (de TV Rural a McGyver, passando pelo programa de animação de Vasco Granja), alimentos que à luz das regras de hoje seriam alvo fácil da ASAE (ex: granizados FA ou as fantásticas Peta-Zetas), músicas inesquecíveis como as de José Cid, Duran-Duran, brinquedos como o barco dos piratas da Playmobil, o Action Man e as inúmeras figuras de PVC dos heróis da TV.
O que está na moda hoje, está enterrado amanhã. As notícias que abrem o telejornal esta noite estarão quase esquecidas daqui a uns meses. Multiplica-se quase até ao infinito a nossa capacidade de arquivo, mas a nossa memória é cada vez mais curta em relação ao passado…
A minha geração, filha da democracia, vive tempos conturbados como muitas vezes aconteceu no nosso passado. E as pessoas, mesmo nas piores crises, continuavam a trabalhar, a criar família, a divertir-se.
Nuno Markl, como poucos, sabe que todos somos uma máquina do tempo. Nascemos numa determinada época, somos influenciados pelo meio que nos rodeia, pelo processo de socialização, por tudo o que antes de nós aconteceu. E, até deixarmos este mundo, passamos tudo isso aos que depois de nós cumprirão o seu papel. Preservar o património, seja uma carta de foral da Idade Média ou a memória de programa de televisão como o “TV Rural”, faz parte do nosso dever como habitantes deste planeta. Nem que seja em nome dos que depois de nós virão.

PEDRO MARTINS
(condensado de artigo a publicar no boletim ALDRABA nº 10, actualmente no prelo)

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