terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Nuno Teotónio Pereira, Aurora Rodrigues: dois testemunhos, duas memórias









Na passada semana (4ª feira, 2 de Fevereiro, e sábado, 5 de Fevereiro), realizaram-se sessões públicas em que estes cidadãos, de percursos e gerações bem diferentes, foram homenageados e em que foram lembradas as suas ricas experiências de vida. Em ambos os casos, centenas de participantes vibraram com esses testemunhos e partilharam memórias que são estímulos para o futuro e não um saudosismo vazio.
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Aurora Rodrigues, hoje de 58 anos de idade e magistrada do Ministério Público, lançou no dia 2 o seu livro “Gente comum – uma história na PIDE”, que descreve o tempo dos finais do Estado Novo em que, sendo estudante de Direito e militante de extrema-esquerda, foi presa e torturada barbaramente pela PIDE (espancamentos e dois períodos de tortura do sono, de 16 e 4 dias).
A Aurora era uma jovem frágil, nascida numa aldeia do Baixo Alentejo e filha de pais humildes, que aderiu e lutou pelos ideais do fim da ditadura e da guerra colonial, tendo conseguido resistir aos tratamentos brutais da polícia, mantendo-se sem colaborar com ela e fiel aos segredos da sua organização.
A sessão em causa realizou-se num local simbólico, o auditório da Prisão de Caxias, onde a Aurora tinha sido presa e torturada em 1973. Na mesa que presidiu aos trabalhos, estavam a actual directora da cadeia, Hermínia Pacheco, e os professores universitários Paula Godinho, Miguel Cardina e Fernando Rosas, que apresentaram interessantíssimas exposições sobre o contexto social e político da luta da juventude estudantil contra o regime fascista e contra o colonialismo.
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Nuno Teotónio Pereira, arquitecto já de idade avançada (89 anos) e saúde muito debilitada, esteve no salão da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, em sessão subordinada à memória das cooperativas culturais Pragma e Confronto nos últimos anos da ditadura fascista.
O Nuno foi fundador e promotor dessas iniciativas, nascidas no quadro do chamado catolicismo progressista dos anos 1960’s, e que desempenharam (respectivamente em Lisboa e no Porto) um importante papel de consciencialização dos meios urbanos para a reivindicação pela liberdade e pela democracia.
O Nuno Teotónio era oriundo de uma família abastada, muito ligada ao Estado Novo, e constitui um exemplo brilhante de ruptura individual com o contexto onde fora nascido e criado, por via da compreensão do sofrimento e da opressão a que o nosso povo estava submetido.
Profissional respeitado e com assinalável obra construída, nunca hesitou em emprestar as suas energias às movimentações pela democracia e contra a guerra, tendo acabado por ser preso pela PIDE durante meses, estando detido em Caxias aquando do 25 de Abril de 1974.
A sessão de homenagem, no dia 5 de Fevereiro, contou com intervenções calorosas de uma mesa com a professora Joana Lopes, o dr. Jorge Sampaio, e os activistas da Confronto Mário Brochado Coelho e Júlio Pereira, tendo terminado com um emocionante testemunho do próprio Nuno Teotónio, apelando ao empenho das novas gerações na transformação da sociedade.
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O nosso respeito e a nossa gratidão pelos testemunhos de vida da Aurora e do Nuno.

JAF (texto e fotos)

1 comentário:

  1. Agradeço este contributo, acerca da história de vida de dois cidadãos. A história de vida, enquanto testemunho de um tempo, com o contributo da memória social, é um património que a Aldraba tem sabido evocar, nomeadamente quando há alguns anos, na revista, se publicou uma entrevista a João Honrado, também ele cidadão interveniente e lutador, por um Portugal melhor.

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