Boticas, é lá muito a norte, em Trás-os-Montes, no reino maravilhoso, mar de pedras, como o descrevia Torga. Terras de Barroso com costumes e tradições estudadas a fundo pelo padre Fontes na sua Etnografia Transmontana: o comunitarismo rural, os fornos do povo, o culto dos animais, com relevo especial para o boi, o forte boi barrosão, o boi do povo, as chegas de bois e tantos outros componentes de uma cultura popular singular.
Em Boticas, na própria cidade, mantém-se uma tradição ligada ao culto de S. Cristóvão, santo que, apesar de na sequência da contra-reforma e após o Concílio de Trento ter tido o culto banido por ser visto como superstição, continua a ser venerado principalmente devido aos seus poderes de boa condução dos viajantes, mas também por ser considerado como interceptador das cheias dos rios.
Em meados de Agosto realiza-se em Boticas a Festa de Nossa Senhora da Livração. Para além das missas e da procissão, da chega de bois e do fogo de artifício, esta festa tem uma particularidade que a diferencia de quase todas as outras que, naquele mês, sucedem de norte a sul de Portugal.
Em Boticas, na própria cidade, mantém-se uma tradição ligada ao culto de S. Cristóvão, santo que, apesar de na sequência da contra-reforma e após o Concílio de Trento ter tido o culto banido por ser visto como superstição, continua a ser venerado principalmente devido aos seus poderes de boa condução dos viajantes, mas também por ser considerado como interceptador das cheias dos rios.
Em meados de Agosto realiza-se em Boticas a Festa de Nossa Senhora da Livração. Para além das missas e da procissão, da chega de bois e do fogo de artifício, esta festa tem uma particularidade que a diferencia de quase todas as outras que, naquele mês, sucedem de norte a sul de Portugal.
Boticas é atravessada pelo Ribeiro do Fontão e é nas suas águas que, por altura da Festa, é colocada uma gigantesca imagem de S. Cristóvão que, dizem as gentes da terra, dará protecção aos caminhantes. A imagem que faz parte do acervo do Museu Rural, tem efectivamente uma enorme dimensão, fazendo jus à lenda, que fala de um gigante com vários côvados de altura.
Anote-se que, na região, não encontramos qualquer espécie de tradição com estas características, nem festas ou romarias que o tenham como figura central. Da sua colocação em águas de rio só temos conhecimento do que se verificava em Braga, por altura das Festas de S. João, onde a imagem era posta nas águas do Rio Este, muito embora S. Cristóvão seja venerado em muitos locais, com capelas ou imagens em igrejas geralmente situadas junto a cursos de água, como refere Ernesto Veiga de Oliveira em Festividades Cíclicas em Portugal.
Dizem-nos que a tradição data da primeira metade do século XIX, mas a colocação de imagens de santos nas águas dos rios é costume muito antigo, em geral associado a ritos propiciatórios, procurando desencadear ou conter fenómenos atmosféricos que condicionam a vida rural. Aliás podemos encontrar referências a essas tradições, como práticas proibidas, quer nas Ordenações do século XVI (Manelinas, Filipinas) quer nas Constituições dos Bispados ( por exemplo, nas de Évora- 1534). E as penas a que estavam sujeitos os prevaricadores não eram, de modo algum, suaves.
Consiglieri Pedroso e Adolfo Coelho, nos finais do século XIX, recolheram e analisaram toda esta documentação, valendo a pena uma consulta aos seus escritos sobre esta matéria. Encontraremos muitas práticas que nos dias de hoje estão totalmente afastadas do imaginário popular mas também muitas outras que ainda perduram, as mais das vezes ocultadas sob vestes religiosas, num processo de sincretismo que a igreja católica utilizou, desde sempre, como forma de controlar as manifestações populares que considerava como produtos da ignorância do povo ou como influência do demónio.
JMP (texto e fotografia)
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