“Memórias do Contrabando em Santana de Cambas”, de Luís Filipe Maçarico é um documento notável. Porque faz um registo detalhado, antropológico, de algumas dezenas de informantes, das suas histórias, das suas angústias. Porque recolhe estórias da nossa literatura sobre o contrabando e assim abre um capítulo de estudo da história sobre as estórias deste. Num livro cuidadosamente apresentado, com uma bonita capa e um texto lindo de Miguel Rego em introdução, Luís Maçarico fornece-nos ao seu estilo escorreito, que mesmo em prosa faz a luz que da poesia emana, um documento precioso sobre as memórias do contrabando. As memórias são, há que dize-lo, muitas vezes invenções sobre a história e destas tem que se tirar ilações com luvas de pelica, destas tem que se deixar assentar a poeira para fazer história. A história do contrabando ainda está por fazer, o seu enquadramento e definição. Este é um importante levantamento antropológico e um belo escrito de estórias. A outra história, a história das relações sociais de produção, das lógicas económicas, da interligação do poder político, da organização do Estado, da função punitiva deste sobre um quadro legal, e numa lógica de direito, essa ainda falta escrever. Essa terá que resultar de um confronto com outras realidades locais e de uma discussão sobre o fazer história. Essa terá que passar sempre por esta pequena pérola do Luís. Para que com esta façamos sentido contribuiremos."
António Eloy, in INSIGNIFICANTE
António Eloy, in INSIGNIFICANTE
De "ÁGUAS DO SUL"
Postado por oasis dossonhos às 11:09 0 comentários
Sem comentários:
Enviar um comentário