sábado, 17 de maio de 2025

O prazer das pequenas coisas


 

Está agora concluída a impressão do n.º 37 da revista ALDRABA, cuja distribuição se inicia desde já, e estando prevista para muito breve uma sessão pública de apresentação (a anunciar dentro de dias).

Divulgam-se hoje as passagens mais significativas do Editorial:


O prazer das pequenas coisas

Neste mês de Abril de 2025, completam-se 20 anos de militância da nossa Aldraba.

Podemos dizer que estamos contentes, mais, que estamos felizes, mais ainda, que estamos vaidosos do nosso percurso.

Esse grupo de amigos que, em 2005, se juntou no edifício do Ateneu em Lisboa, imbuído de coragem para dar corpo a um projecto que defendesse a memória, o nosso património (material e imaterial), que procedesse à sua divulgação e agregasse quem se lhe quisesse juntar nesse salutar esforço, continua presente, acolhe sempre novos amigos, segue em frente.

Este conjunto de “modestos magníficos”, que sem modéstia somos, com parcos recursos, estrebuchou num mundo de abundância teimando em mostrar o prazer das pequenas coisas. Uns e outros, todos “cosculhas”, carrearam para os momentos de reflexão das suas reuniões aquilo que cada um ia descobrindo e que não queriam só para si: havia que tudo se divulgasse na nossa revista, tinha que se organizar visitas temáticas, tanto em Lisboa como nos mais diversos pontos do país, marcar refeições-tertúlia com amigos em associações em que também eles teimam, como nós, em manter vivas as boas práticas de partilha.

(...) Nestes 20 anos, visitando o passado, procurámos relembrá-lo para que de algum modo servisse ao presente no que teve de melhor, conscientes que os que nos acompanharam se de algum modo o viveram que dele não se esquecessem nas suas pequenas coisas boas. Convivemos com “teimosos” que aqui e acolá nos ensinaram muito do seu saber neste mundo em movimento e em permanente evolução, cientes de que esse seu outro mundo vai morrendo e muito do que ficar se transformará em folclore ou em curiosidades museológicas.

Com alegria, verificámos em como muitas autarquias, com os seus “carolas”, empregaram bem os dinheiros que lhes foram concedidos para não só melhorarem o aspecto das suas localidades mas também na atenção dada à preservação do seu património material e imaterial. (...)

Denunciámos e continuaremos a denunciar a incúria e o abandono de todo o nosso património.

(...) O turismo, na sua magnânime prostituição, tem sido responsável pelo restauro do muito que se via em ruína. Pequenos empreendedores também participam no banquete e compram tugúrios transformando-os em AL. Os habitantes que viviam nessas casas foram “amavelmente” convidados a abandoná-las e a procurarem refúgio fora dos seus lugares de residência. Uma nova população ambulante aí se instala em trânsito constante, e as cidades dão jus ao que Fernão Lopes dizia do seu tempo de “muitas e variegadas gentes”: Lisboa e Porto estão mais lindos!

(...) Nós, os da Aldraba, continuaremos a procurar o outro mundo, o das boas pequenas coisas mesmo que em evolução, com amigos, não conseguindo resolver os problemas do mundo, mas vivendo-o com o prazer que nos é permitido.

Nuno Roque da Silveira

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