sábado, 30 de janeiro de 2016

Bens de consumo
















Sob as luzes demasiado brancas dos supermercados, aprendem-se grandes lições. Só raramente os roteiros turísticos incluem visitas a supermercados, ainda assim, há muita informação que não se encontra em monumentos. Para o visitante interessado e atento, os supermercados são retratos da economia, da gastronomia, de inúmeras faces da cultura real, da identidade de um país.

Nessas prateleiras, estão os produtos tradicionais, consequências da história, mas também está aquela pasta de dentes com uma embalagem amarela e preta, fórmula química e industrial que todos os portugueses de certa idade recordam, publicitada durante anos na televisão. Ou, mesmo ao lado, está o restaurador capilar Olex, símbolo de uma época, frase publicitária lembrada por tantos que, nesse tempo, estavam longe de ter falta de cabelo. E é possível sentir saudades daqueles carrinhos de linhas, daqueles rebuçados para a tosse ou daqueles algodões para limpar os dourados e os prateados.

Nos anos oitenta, eu ia à mercearia. Com o dinheiro trocado, notas e moedas, pedia o que levava escrito num papel. O balcão tinha um tampo de mármore e chegava-me à altura do peito. Enquanto a senhora Dalila procurava o que lhe pedia, eu ficava a olhar para os brinquedos que estavam expostos, se fosse perto do Natal, havia comboios a pilhas e guarda-chuvas de chocolate; havia fotografias de gelados nos meses do verão. Não era habitual que a conta incluísse essas extravagâncias, mas olhar para elas também tinha valor, também me alimentava o desejo.

Depois, quando chegaram os hipermercados a Portugal, a minha família e eu surpreendíamo-nos com os preços de tudo, as promoções eram loucas e enlouqueciam-nos. Ao longo de corredores, eu empurrava carros com pilhas de detergente para a roupa, tínhamos de aproveitar a viagem. No parque de estacionamento, só o meu pai, com grande arte, conseguia encontrar espaço no porta-bagagens para todas as compras que fazíamos a pensar no mês seguinte, pelo menos. Voltávamos para casa com as vozes dos altifalantes a ecoarem-nos na cabeça, alguém precisava de ir à caixa número não-sei-quantos, alguém precisava de ir com muita urgência e repetidamente à caixa número não-sei-quantos.

Hoje é tudo igual? Não concordo. Uma Coca-Cola com o rótulo em alfabeto cirílico, mandarim, árabe ou hindi tem muita diferença de uma Coca-Cola com o rótulo em inglês, Coke comprada numa loja de conveniência em Manhattan. Mesmo que a composição seja exatamente a mesma, o sabor será tão distinto como o cenário, o preço ou a história que essa bebida possui naquele lugar, o que representa ali.

Para quem esteja na disposição de ver, há museus em toda a parte, tudo pode ser um museu.

Pasta medicinal Couto, a minha mãe ainda prefere essa marca. Atualmente, dá-se a grandes trabalhos para achá-la, mas vale sempre a pena.

Sentiremos saudades de muitas coisas que hoje parecem banais. Nada é suficientemente industrializado ou massificado a ponto de não poder ser recordado com nostalgia. Essa saudade somos nós, é o próprio tempo.

José Luís Peixoto (in revista UP, janeiro de 2016)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O que foi a Assembleia Geral de 25 de janeiro de 2016












A associação Aldraba, a tal que "não pede licença para existir", reuniu ontem a sua Assembleia Geral de 2016, em que os associados presentes discutiram e aprovaram o relatório das atividades desenvolvidas em 2015 e a sua expressão contabilística, e depois o planeamento do que nos propomos realizar em 2016 e respetivo orçamento.

Quanto a 2015, a Assembleia congratulou-se pela forma como decorreu o ano do 10º aniversário, com a realização de 4 encontros temáticos (no Oeste, em Lisboa e no Alentejo) e de 2 visitas a museus e exposições ligados ao património popular, com a edição e ampla divulgação de dois nºs da revista, com a realização do jantar de confraternização em 25.4.2015 (dia do aniversário) e de mais um jantar-tertúlia, e com a nossa presença em diversos certames centrados no património e no associativismo (Mértola, Pias, Campo Maior, Alpedrinha, Freguesia da Estrela em Lisboa e Congresso da CPCCRD).

Tudo isto acompanhado da adesão de 15 novos associados, num exercício anual em que se registou uma despesa total de 1459€ e uma receita agregada de 1487€.

Para 2016, a Assembleia aprovou o seguinte pacote de iniciativas:

"1. Realizar pelo menos três Encontros temáticos, em locais de reconhecido interesse, procurando chegar a zonas do país ainda não tocadas por anteriores iniciativas.

2. Levar a efeito dois Jantares-tertúlia em casas regionais ou coletividades populares.

3. Realizar novas edições das Rotas da Aldraba e visitas a museus ou exposições que se insiram no espaço e património popular.

4. Efetuar debates sobre questões específicas do património, a incluir nos Encontros temáticos ou em outro tipo de iniciativas.

5. Publicar os nºs 19 e 20 da revista “Aldraba”, continuando a procurar para os mesmos o patrocínio de instituições de referência, e efetuar sessões de lançamento com convidados de prestígio, aproveitando quando possível eventos culturais mais alargados.

6. Manter e reforçar a circulação da informação no blogue “A Aldraba” e na página do facebook “Associação Aldraba”.

7. Editar postais e outros materiais de divulgação do património, na sequência de concurso (com regulamento e júri de avaliação externo), para o qual os associados serão desafiados a enviar as suas fotografias sobre temas patrimoniais, e em que a edição constituirá o prémio dos trabalhos selecionados.

8. Dinamizar na revista uma secção para a participação dos associados que habitualmente não colaboram, e que versará sobre um aspecto patrimonial concreto, sobre o estado em que o mesmo se encontra, ou sobre uma curiosidade nestas áreas.

9. Continuar a organizar e publicitar o acervo documental da Aldraba.

10. Publicar o nº 2 dos Cadernos Temáticos, em torno de uma referência patrimonial da cidade de Lisboa, associado a um patrocínio que cubra os respetivos custos de edição.

11. Promover a divulgação do nosso percurso junto da comunicação social nacional e regional, destacando ações e artigos publicados acerca da salvaguarda do património, e contactando antecipadamente com a comunicação social local nas zonas onde realizamos iniciativas.

12. Reativar a possibilidade da criação de grupos de trabalho com um elemento da Direção e associados com interesse em colaborar na realização de tarefas específicas, no âmbito das atividades programadas.

13. Prosseguir os esforços para obter uma sede com espaço físico adequado à otimização das nossas atividades.

14. Manter a ligação a certames de base popular local e regional e a outras iniciativas exteriores nos domínios do associativismo, da memória e da cidadania."

Para todo este conjunto de atividades, orçamentámos a importância de 2450€.    

JAF

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Khaled el-Asaad, assassinado por defender o património cultural de Palmira








Khaled el-Asaad, arqueólogo sírio de 81 anos, decidiu ficar na sua cidade de Palmira quando os terroristas do Daesh (o auto-proclamado “Estado Islâmico”) a invadiram e tomaram de assalto, no verão do ano passado.

Ajudou à evacuação do museu que dirigia, recheado de preciosidades milenares.

Aprisionado pelos terroristas, em agosto de 2015, foi interrogado e torturado durante semanas, para revelar o paradeiro dos tesouros escondidos, mas resistiu e não falou. Como retaliação, foi barbaramente decapitado, e o seu cadáver pendurado num semáforo da cidade.

Palmira, que o Daesh destruiu à bomba, era um verdadeiro símbolo de uma civilização híbrida e tolerante, em que coexistiam heranças da Mesopotâmia, da Síria, da Fenícia, da Pérsia, da Arábia, de Roma e de Atenas.

O que o Daesh quis fazer não foi apenas atacar os “ídolos” pré-islâmicos, mas sim recusar a própria noção de um património mundial da humanidade, comum a todos os povos e a todos os tempos.

Foi esta a causa pela qual Khaled lutou e foi assassinado. Com ele, somos nós todos a ser postos em causa. Honremos a sua memória!

JAF (ver texto do artigo “Património”, de Pedro Mexia, no Expresso de 16.1.2016)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Assembleia Geral ordinária da Aldraba do ano de 2016

                          
Por convocação de 4 de janeiro de 2016 do presidente da mesa da Assembleia Geral, João Coelho, enviada a todos os associados, irá realizar-se no próximo dia 25 de janeiro, pelas 18.30h, na Rua do Possolo, 5-9, em Lisboa, a Assembleia anual da ALDRABA, com a seguinte ordem de trabalhos:

1. Informações;
2. Relatório e Contas de 2015;
3. Orçamento e Plano de Atividades para 2016.

A Assembleia inicia-se às 19h, com qualquer número de associados.

A Direção