domingo, 29 de setembro de 2013

Os nossos parabéns ao almanaque “Borda d’Água” que faz 85 anos!



                               
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O “Borda d’Água” para 2014 já anda a ser apregoado e vendido há algumas semanas. Tira 100.000 exemplares, o que, ao nível das publicações periódicas, só é ultrapassado pelo “Correio da Manhã”, pelos diários desportivos, e pouco mais…

Como “previsão” para 2014, o “Juízo do ano” do “Borda d’Água” estabelece que “o Homem será muito influenciado”…

E recomenda: “Não perca tempo nem energias com quem não merece. (…) Esteja atento ao consumo de frutos vermelhos, pois podem trazer benefícios mas também malefícios”.

Na meteorologia, prevê que “2014 será de um inverno áspero mas pouco frio, a primavera será húmida, o verão quente e o outono temperado”.

Ou seja, sugestões e previsões em que impera o “bom senso”, e em que o risco de erro não será muito grande.

Ao longo das 12 páginas dedicadas a cada um dos meses de janeiro a dezembro, um muito útil conjunto de informações sobre as horas do nascer e do pôr do sol, sobre as fases da lua, sobre o calendário civil, sobre os procedimentos convenientes no domínio da agricultura, da jardinagem e da pecuária. Entrando no domínio do imaginário e do religioso, informa-se para cada mês sobre as efemérides que fundamentam o calendário católico, e sobre os comportamentos individuais que podem decorrer da astrologia e dos signos do Zodíaco.

No resto do almanaque, encontramos ainda informações sobre as enchentes e vazantes das marés, sobre eclipses do sol e da lua, sobre as canículas de agosto, sobre ao dias da espiga e de S. Valentim, e, finalmente, sobre o calendário de festas, feiras e mercados de norte a sul de todo o país.

O “Borda d’Água” é indiscutivelmente - como se pode imaginar a partir deste resumo da edição de 2014 - uma instituição popular que tem garantido um grande impacto. Tal como o folclore, o artesanato, a religiosidade, o desporto, os ditados, os pregões, etc., tudo são formas práticas pelas quais as populações manifestam o seu inconformismo com as dificuldades da vida, e exprimem o desejo de um futuro melhor.

No verão do corrente ano de 2013, foi travado um estimulante debate nas páginas do diário “Público” acerca da astrologia, e se a mesma será uma fraude ou uma ciência.

Em 6 de agosto último, os astrónomos João Fernandes e Pedro Russo escreveram que “a astronomia e a astrologia estiveram ligadas durante muitos séculos. Houve até figuras que são hoje nomes maiores da astronomia que fizeram horóscopos. Johannes Kepler (astrónomo alemão que viveu nos séc. XVI e XVII) é talvez um dos mais paradigmáticos. Porém, na mesma época em que Kepler viveu, a astronomia e a astrologia separaram-se definitivamente, com o desenvolvimento do método científico: o conjunto de regras básicas de como se deve proceder a fim de produzir conhecimento. Assim a astronomia (ciência) e a astrologia (crença) seguiram caminhos diferentes. (…). Hoje, astronomia e astrologia não têm qualquer relação entre si, quanto aos objetivos ou metodologias de trabalho. Podemos até dizer que a astrologia está para a astronomia como a alquimia está para a química ou para a medicina. Mas porque é que a astrologia não é uma ciência? Não é porque nunca, até hoje, a suposta relação causa-efeito entre a posição dos astros e a vida de cada um de nós foi validada pelo método científico após o escrutínio por equipas de investigadores independentes. (…) E o contrário, foi? Ou seja, há algum estudo que mostre que a astrologia não tem fundamento científico? Há. Podíamos citar trabalhos como o publicado por Shawn Carlson (Univ. da Califórnia), na prestigiada revista Nature, em 1985. Mas deixamos aos leitores um argumento mais simples para reflexão. Com exceção de Úrano, Neptuno e Plutão, a astrologia não incorporou descobertas científicas dos últimos 500 anos tais como: mais de 900 planetas extrassolares, nebulosas, enxames de estrelas, buracos negros, galáxias, entre outros. E nisto se inclui o facto da Terra se mover em torno do Sol. Sim, porque os horóscopos, na realidade, são ainda construídos supondo que a Terra está no centro do Universo e que tudo (incluindo o Sol) roda em torno dela. Pode a astrologia ser considerada ciência e, para além de muitos outros erros técnicos, ao mesmo tempo não se ter atualizado? Assim, a astrologia não é, definitivamente, uma ciência e está ao mesmo nível da cartomância, da leitura nos búzios ou nas borras de café”.

A este artigo, reagiu o “estudante de astrologia” Luís Resina, opinando que “a astrologia que os senhores chamaram de crença, e muito bem, refere-se à divulgação da horoscopia que começou em França nos inícios do século XX. Esta é sem dúvida, uma criação sem fundamentos dos media desejosos de angariar mais público e rentabilidade, já faz algum tempo que vivemos no reino do lucro e da quantidade e facilmente esquecemos a qualidade inerente a certos saberes tradicionais. Quero também elucidar que os “astrólogos esotéricos” são raros, e tal como Fernando Pessoa, aliam o conhecimento à pesquisa e à prática, sabem aplicar o método científico nas suas pesquisas e não precisam que a ciência prove coisa alguma, pois sabem pelas suas verificações e pelos resultados obtidos que a arte régia é operativa. Ela tem um pouco de ciência aliada a uma técnica apurada, alguma psicologia e arte interpretativa, e muita sincronicidade nos seus fundamentos. Como tal, nunca gostaria que esta arte milenar fosse reduzida à nossa mera ciência, que tendo os seus méritos, nunca irá chegar, pelos atuais meios em que se encontra, a explicar o sentido da vida ou as profundezas da psique”.

Finalmente, o médico Nuno Lobo Antunes fez publicar em 15 de agosto uma carta em que se congratula com o artigo inicial “por ver desmascarada, em linguagem talvez demasiado cordata, a impostura que se serve da ignorância”, e se insurge contra a “iniquidade que representa colocar no mesmo plano a busca da verdade e a traficância da mentira”.

Sem nos envolvermos diretamente na polémica, não devemos ignorar os problemas que as práticas astrológicas poderão causar à abordagem objetiva que as pessoas têm de fazer dos seus problemas.

Mas também não será por isso que deixaremos de, aqui, exprimir o nosso apreço à publicação do “Borda d’Água” e ao 85º aniversário que vai completar em 2014!

JAF

terça-feira, 24 de setembro de 2013

30 caminhantes da ALDRABA fizeram a rota da colina da Pena até ao Rossio














Num sábado radioso, pelas 10 horas da manhã, começaram a juntar-se os 30 participantes nesta 4ª Rota da Aldraba, ali no Largo do Mitelo, ao Campo de Santana.

Encontro de amigos já de longa data, e também de conhecimento de vários novos, trazidos pelos primeiros.

Satisfação da direção da Associação, e reconhecimento de todos ao associado José do Carmo Francisco, orientador e animador principal do percurso, coadjuvado pelos dirigentes Maria do Céu Ramos e António Brito.

Começámos pelo contacto com o palácio do desembargador Alexandre Metelo, onde Fialho de Almeida foi praticante de farmacêutico, passámos ao Posto Geodésico e à Academia Militar (evocação da rainha de Inglaterra Catarina de Bragança), e visitámos o Pátio do Costa, “simpático, pequenino e sossegado”.

A partir do jardim do Campo de Santana, avistámos o que começou por ser o Campo do Curral, por efeito da «carniçaria» (matadouro), criada no Largo do Mastro em 1461, e avistámos também a Rua de Gomes Freire, antes chamada Carreira dos Cavalos, pois por aí vinham para Lisboa cavalos, touros e carroças. A Feira da Ladra, antes de ir para Santa Clara, esteve no jardim do Campo de Santana entre 1835 e 1882. As touradas, numa praça de madeira desmontável, eram animadas pelo Conde Vimioso, por D. João de Meneses e pela preta Cartuxa, que anunciava as festas taurinas em tipóia no meio de barulho e escárnio.

No local do Arco de Santana, onde está hoje a Faculdade de Ciências Médicas, evocámos Vasco Santana, que ali passou com distinção (esternoclenomastoideu…), mas em que tudo começou com a célebre frase dita por um preto «Vou para este exame completamente em branco!», e detivémo-nos na estátua ao «santo» Dr. Sousa Martins (1843-1897) que, tendo sido um ateu em vida, «transitou, contra a vontade, da heresia para a santidade.».

Passámos ainda pela placa de homenagem aos Mártires da Pátria, que dão desde 1880 nome oficial ao Campo de Santana, e que foram os heróis da conjura de 1817, 13 dos quais aqui foram enforcados e o mais famoso foi Gomes Freire de Andrade.

Seguimos depois para o Torel, espaço que deve o nome ao desembargador Cunha Thorel. Torel é o jardim/miradouro tal como Torel era o nome dos Serviços de Investigação Criminal em 1927. Por lá passaram os «vadios, mendigos e equiparados». O José do Carmo pormenorizou-nos dois casos: Mário Cesariny e Pepe.

A seguir ao Torel, descemos para a casa onde viveu Venceslau de Moraes (1854-1929), grande escritor português apaixonado pelo Japão e suas gentes, subimos ao Elevador do Lavra inaugurado em 1884 a ligar o Largo da Anunciada à Travessa do Forno do Torel. Ao lado do Instituto Câmara Pestana surge uma casa apalaçada adquirida em 1928 pelo Governo da Ditadura Nacional, junto à qual ficou a Ermida de Santana e sobejam hoje as placas camarárias de 1935 sobre os ossos de Camões, poeta desditoso até na posteridade. «No país onde Camões morreu à fome muitos enchem a barriga à custa de Camões» - Almada Negreiros disse.

Na Travessa da Pena, vimos onde viveu Ramiro Leão (1857-1934), com a sua casa e a sua fábrica, que dá acesso à Vila Serra Fernandes onde surge um magnífico miradouro semi-particular.

Na Calçada de Santana, no nº 177, surgiu a interessante Livraria «Pessoa & Cia», misto de alfarrabista e novidades, e no nº 139 vimos onde terá vivido Camões. No pátio nº 2 da Rua Martim Vaz nº 84, fomos ver onde nasceu Amália Rodrigues em 1920. Seguiu-se o Convento da Encarnação e o respetivo Recolhimento da Encarnação, entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Continuando a descer, chegámos finalmente ao Pátio do Salema, com uma bela vista para as chaminés do Palácio da Independência, e daí ao largo de São Domingos.

A maioria dos participantes nesta 4ª Rota da Aldraba aceitaram depois conviver num animado almoço, no mesmo restaurante junto ao Coliseu dos Recreios (Bonjardim) onde há 8 anos a nossa Associação assinalava os seus momentos fundadores.

Texto JAF (adaptado do guião de José do Carmo Francisco)
Fotografias de Mário de Sousa (reportagem completa no facebook da Aldraba, no álbum "4ª Rota da Aldraba - Do Campo de Santana ao Rossio")

terça-feira, 17 de setembro de 2013

"O sacrifício das raízes", segundo Adriano Moreira













O professor universitário, pensador e antigo dirigente político Adriano Moreira, com uma matriz doutrinária de direita e, portanto, insuspeito de ser mais uma das “forças de bloqueio” que tanto afligem o atual governo português, acaba de publicar – em artigo de opinião no “Diário de Notícias” de hoje, 17.9.2013 – uma lúcida análise dos riscos que a “ideologia orçamental” e a “superintendência de funcionários internacionais no exercício de um protetorado” podem trazer à identidade de um país e de um povo.

Partilhando inteiramente estas preocupações, não resisto a reproduzir-vos as partes mais significativas do alerta do velho professor:


Nesta perturbada entrada no século XXI, com uma transição articulada designadamente pelos conflitos militares de inquietantes custos humanos e materiais, envolvendo o presente e o futuro das pessoas e das comunidades, a atenção às raízes das comunidades em crise precisa de ser preservada de debilidades favoráveis a perdas irrecuperáveis, designadamente, se possível, dos erros de avaliação, mas sempre contra o método de impedir que os povos vejam a realidade, porque o Estado espetáculo a cobre de nevoeiro suficientemente opaco.

Os analistas que não subscrevem os testemunhos dogmáticos da Escola de Chicago e da cruzada de Milton Friedman, morto dias antes da derrota dos republicanos nas eleições a meio do mandato para o Senado em 2006, põem em evidência, como suportes do seu desamor pela doutrina do famoso economista, o facto de ter sido seguida, alegadamente, por regimes como o de Pinochet, que não deixou boa memória.

Esta linha crítica, que também deve ser prudente com o cuidado que é sempre exigível aos contraditores académicos, não obstante a sua reconhecida idoneidade, neste caso também a ponderação terá que não diminuir a presença ativa dos princípios defensores do Estado mínimo, uma orientação que já levou à legitimação em alguns lugares, da privatização da segurança e dos que foram chamados os "cães de guerra".

Independentemente de os regimes serem democráticos, e por isso não exibirem o perigo e o método da violenta submissão das sociedades civis, o perigo do Estado mínimo parece ter reflexos na onda de privatizações à luz da crise financeira, europeia, ocidental, mundial e, por isso, portuguesa, que alarmam visões arreigadas da identidade das sociedades submetidas a essa terapia de choque.

Não parece indicado ignorar que patrimónios, instituições e funções, - que uma longa tradição considera não apenas vitórias, de uma longa evolução mas indispensáveis à confiança no Estado e à própria identidade dos países - não podem ver anulada a sua natureza pública por imperativo de uma ideologia orçamental, pela superintendência de funcionários internacionais no exercício de um protetorado.

Grande parte das alienações que se vulgarizam tocam nas raízes das comunidades e, portanto, na sua identidade. Nas crises brutais por que Portugal passou nestes já longos séculos, foi a segurança da identidade da sociedade civil que permitiu reconstruir um novo futuro. Não é possível consentir que se afetem as raízes para obedecer ao credo do mercado.

(Texto condensado de artigo do DN, 17.9.2013)

JAF

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

4ª Rota da Aldraba - Do Campo de Santana ao Rossio



















Vamos realizar a 4ª Rota da Aldraba “Do Campo de Santana ao Rossio”, dando continuidade aos percursos pela cidade de Lisboa, em busca de referências que sobressaem seja pelo seu significado histórico, seja pelo exemplo que são da preservação (ou não) do património da cidade.

Fica feito o convite a todos os associados e amigos para aparecerem no próximo dia 21 de Setembro (sábado), às 10.00 horas no Largo do Mitelo, ao Campo de Santana.

Após chegada ao Rossio, para todos os que desejarem, poderemos almoçar em conjunto em local próximo e a combinar na altura.

Em apoio ao percurso, contamos com o acompanhamento e a intervenção do nosso associado José do Carmo Francisco, jornalista e homem de cultura.

Para aguçar o apetite aos participantes nesta Rota da Aldraba, recomenda-se a leitura do texto relativo ao seu percurso, elaborado pelo José do Carmo Francisco e já publicado no seu blogue “Transporte Sentimental” em:

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A ALDRABA vai estar no Festival dos Chocalhos de 13 a 15.setº.2013

Nos próximos dias 13, 14 e 15 de setembro, na freguesia de Alpedrinha, vai realizar-se a 11ª edição do Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância, evento organizado pelo Município do Fundão e pela Junta de Freguesia de Alpedrinha.

Como nos anos anteriores, teremos muita animação de rua, com vários grupos locais e nacionais a percorrerem as diversas ruas da vila, teremos atividades no Terreiro de Santo António promovendo o património material e imaterial pastoril da Beira Interior, com conversas, oficinas, apontamentos musicais e mostras de artesanato e produtos da terra, e teremos concertos musicais alternados no Chafariz de D. João V e em cinco pequenos palcos.

E, ainda, as muitas dezenas de tasquinhas ao longo da Rua Cardeal D. Jorge da Costa, com artesanato, enchidos, queijos e gastronomia, e a travessia pedestre da serra da Gardunha (do Fundão, por Alcongosta, até Alpedrinha), acompanhados por um rebanho com pastores e cães.

No jardim da Casa da Música António Osório de Sá, e acolhida pela Liga dos Amigos de Alpedrinha, estará patente durante a tarde de domingo 15 de setembro uma banca da associação Aldraba, com os últimos números da nossa revista e outras publicações.

Nesse mesmo local, pelas 17.30 horas de domingo, terá lugar o lançamento do livro de poesia “Transumância das pequenas coisas”, de Luís Maçarico.